Ontem, o governador de Roraima, concedeu uma entrevista no panfletário programa liberal agenda da semana. Uma das principais impressões consiste na ausência de povo e na realidade paralela que vive o governador do Estado. A lógica consiste exclusivamente em fomentar uma visão de mundo pautada exclusivamente em um determinado “desenvolvimento econômico”, estruturado lógico na premissa do fortalecimento da produção de grãos e criação de gado, estruturas intensivas de produção em grandes parcelas de terra, as quais impõem uma lógica de desmatamento em larga escala na Amazônia.
Porém, falta povo na fala do governador. No máximo consegue o mandatário dos ricos, representante da oligarquia agrária que sequestrou o poder político no Estado, assumir uma posição populista de vangloriar-se pela distribuição de cestas básicas. Um programa que rende muita grana a aliados políticos que atuam no comércio de hortifrutigrnajeiros e produtos semiprocessados. Além disso, apresenta uma perspectiva na geração de emprego, porém sem avaliar a diminuição da remuneração enfrentada pela classe trabalhadora em Roraima.
As mortes de mulheres e crianças em nossa maternidade improvisada - estrutura que já consumiu R$ 23 milhões de recursos da saúde nos últimos 2 anos - não integra o processo de análise do governo. Mas, porque falar de povo né Denarium. Assumiste o governo para garantir benefícios e privilégios aos seus parceiros produtivos, algo que consegue executar com maestria, basta vermos as isenções, subsídios e renúncias fiscais concedidas aos parceiros de negócio. Portanto, “efeitos colaterais” como a morte de mulheres e crianças devido às péssimas condições da maternidade improvisada são aceitáveis. O que importa são os negócios.
Na educação a queda de um ventilador sobre um aluno de uma escola estadual parece ser uma realidade de outro ente federado, em Roraima as escolas estão reformas, com laboratórios de informática e plenas condições de trabalho aos docentes, essa é a fala do governador dos ricos. Na prática a maior parte das escolas não foram reformadas, passaram apenas por uma maquiagem que não resolveu problemas estruturais que existem desde o governo Neudo Campos, ou seja, precariedade da rede elétrica, falta de bibliotecas, ausência de atividades artísticas e culturais, ausência de acessibilidade, infestação de pombos e esgotamentos sanitário extravasando rejeitos e servindo para proliferação de vetores.
Além dessa ausência de povo que enfrenta falta de emprego, baixa remuneração e contratos precarizados - chega o governo a saudar a imigração como forma de reorganização da força de trabalho, em minha avaliação devido ao achatamento do ganho do trabalhador, uma lei natural do capitalismo, quanto maior a oferta da força de trabalho, menor a remuneração, consequentemente maior o lucro dos donos dos meios de produção. É importante tratar de alguns temas apontados pelo governador.
Inicialmente, o governo se coloca como um parceiro do Governo Lula, sob o argumento de dependência econômica do Estado em relação ao governo federal, tendo em vista a baixa capacidade produtiva - devido a ausência de políticas estaduais lógicas, pois o governo prioriza o setor primário da economia. Essa retórica é apresentada exclusivamente para não chafurdar no lamaçal das lideranças bolsonaristas em Roraima, no entanto, os gracejos e as benesses da corte palaciana é que empolgam o Denarium na realidade.
Isso fica claro em algumas falas do governador ao apontar que Lula escuta seus pedidos. Diretamente ele afirma com isso que o ex-presidente não o escutava, impondo desta forma, como falou Denarium, em corte de recursos para manutenção da BR 174, impondo ao governo a diminuição do ritmo de trabalho e encurtamento dos trechos a serem recuperados entre a ponte do Cauamé e Uiraricoera. Agora, os investimentos aumentaram 3 vezes em relação ao passado.
Essa adesão do governo de Roraima ao governo Lula fica expressa nas fotos tiradas nos últimos dias da semana passada. Denarium do famoso vídeo de que havia acabado com o PT em nosso Estado, rumou a fotos em redes sociais inclusive com os dirigentes locais do PT. Essa icônica foto não serve apenas para confirmar o processo de aliança política - que não é ruim para nosso povo - mas, para demonstrar quanto próximo caminha o governo Lula e políticos que até bem pouco tempo atrás bradava a defesa intransigente da gestão catastrófica de bolsonaro ao país e para Roraima.
O pragmatismo fisiológico dos políticos roraimenses é enorme. A expressão surgida na ocupação holandesa e muito utilizada pelo representante da ditadura no primeiro governo democraticamente eleito, Ottomar Pinto, na política roraimense até boa voa, Roraima é por conta do ex-governador de Roraima, signatário de um amplo patrocínio do Estado na ocupação de vastas áreas de terras públicas, por grandes fazendeiros, hoje aliados de Denarium.
Além do adesismo denarista, o governador trouxe outros temas importantes e que precisam ser avaliados. Uns para serem desmistificados outros para serem combatidos, em virtude dos graves problemas sociais que podem trazer ao nosso povo. Antes, porém, é necessário discordar da retórica do governador quanto ao seu processo de cassação que é julgado no pleno do TRE/RR.
O julgamento consiste na análise de um grave flagrante eleitoral que foi o aumento na LOA de 2022 dos beneficiários do programa cesta da família que contemplava 10 mil pessoas e no ano eleitoral subiu para 50 mil beneficiários. Isso consiste em crime eleitoral de abuso do poder econômico, utilização da máquina pública em benefício eleitoral e compra de votos. Compreendo que a segurança do governador se encontra não em sua absolvição no pleno, algo impossível pelas provas coletadas no processo.
Mas, sim, na negociação que resultou na alteração da presidência do Avante, partido signatário da ação. A agremiação passou a ser presidida pelo filho do Senador Hiran Gonçalves, político que preside o partido de Denarium em Roraima e possui empregados como secretário adjunto, seu filho, seu cunhado e como secretária de estado sua esposa. Neste quadro vexatório de impessoalidade política e ausência de moralidade o partido deve desistir da ação.
Uma das questões preocupantes diz respeito à altivez de como Denarium afirmou que Roraima poderá exportar energia. Essa certeza deve se estabelecer em torno da perspectiva da construção de hidrelétricas em nosso Estado. Os projetos de energias proveniente das barragens de Bem querer, no rio Branco, e na calha do rio Mucajaí estão muito avançados, com os respectivos estudos bem avançados. O problema destas obras consistem na ausência de eficiência dos projetos que terão grandes impactos sociais e ambientais para uma capacidade de produção de energia muito baixa. Porém, surgem no escopo político como fundamentais a garantia de segurança energética à cidade industrial de Manaus.
Nesta quadra também se insere a retomada de energia de Guri que possibilitará o fornecimento de energia a cidade manauara, por meio da inserção de nosso Estado ao sistema de interligação nacional, após a conclusão do linhão de Tucuruí. Lógico que a retomada de Guri no fornecimento de energia, a curto prazo, possibilita o barateamento de nossa energia, tendo em vista a entrada de 120 gw no sistema roraimense a um custo de produção menor que as alternativas termelétricas existentes em Roraima. O incrível é vermos a mudança repentina de Denarium sobre o assunto, até bem pouco tempo, ele era publicamente contrário a esse caminho, agora torna-se um defensor da proposta.
Nesta quadra é fundamental que a sociedade roraimense possa compreender a necessidade de que a retomada de Guri imponha barateamento nas nossas contas de energia, algo fundamental numa sociedade que diminui a cada ano o valor médio dos salários pagos à classe trabalhadora. Bem como, precisamos ter uma posição clara contra a construção das hidrelétricas, pois os impactos ambientais e sociais não compensam os investimentos a serem realizados. Se há recursos da ordem de R$15 bilhões para construção da hidrelétrica de Bem Querer e temos necessidade de fornecer energia ao parque industrial do Amazonas que possamos investir esses recursos em energia solar.
O governador também tenta transparecer que Roraima se transformará em um corredor de exportação de commodities por meio da estrutura portuária da República Cooperativista da Guiana. Realmente o asfaltamento do trecho entre Lethem a Linden possibilitará que a exportação de carne e grãos fique mais barata aos grandes empresários da agricultura, podendo inclusive potencializar a organização de uma indústria de processados na ZPE, para exportação à Ásia. Porém, nos transformarmos em um corredor de exportação de produtos de Manaus é um erro de planejamento seríssimo ou má fé do governador, para seduzir roraimenses ao projeto.
Questões essenciais como políticas públicas para enfrentamento da dificuldade de acesso a serviços de saúde - referenciada por vastas denúncias de corrupção - uma educação pública de qualidade que enfrente a grande evasão do ensino médio, produção de alimentos para garantia da segurança alimentar de nosso povo, políticas de proteção a grupos vulneráveis cotidianamente aviltados em seus direitos e garantia de moradia são temas que passam ao largo de uma gestão estruturada para garantir os interesses de corporações públicas e privadas que sequestraram o orçamento público para garantir seus interesses, em detrimento da qualidade de vida do povo roraimense.
DESIGUALDADE
Causa inúmeros problemas sociais e econômicos a milhões de brasileiros e brasileiras. A fome é um dos principais entraves oriundo da ampla desigualdade de renda e riqueza que enfrentamos na história brasileira. Um estudo desenvolvido pela UFC oportunizou compreender o impacto da desigualdade sobre o processo de adoecimento e óbito sobre a população brasileira. No período de 2010 a 2020, os 601 mil óbitos registrados por diabetes mellitus passaram por um processo de estudo que afirmou a relação direta entre a morte por esse agravo à saúde e a desigualdade.
A qualidade alimentar é um fator importante no processo de adoecimento da população, quando doente a desigualdade de renda que contribuiu para o adoecimento, catapulta brasileiros e brasileiras à morte precocemente. Na América laina nosso país é o que possui maior registro de diabéticos, sendo a região nordeste e sul, respectivamente às localidade que registram a maior quantidade de mortes.
No mundo a OMS estima que 6,7 milhões de mortes apenas no ano de 2021. A pandemia da disfunção hormonal devido que regula o processamento de acúcar no sangue é fruto de hábitos alimentares e do consumo massivo de alimentos ultraprocessados com grande concentração de açúcares, a exemplo do suco em pó, muitas vezes distribuídos em nossas escolas na merenda de nossas crianças. O docinho do veneno contribui para a ampliação das mortes no país.
As mulheres registram o maior número de mortes, chegando a 32 mortes por 100 mil mulheres, enquanto os homens registram a taxa de 27. Portanto, além de um recorte de desigualdade, a pesquisa comprova um grave recorte de gênero, este lógico potencializado pela desigualdade de atinge milhões de lares de mães solteiras. uma das conclusões da pesquisa é que quanto menor os anos de estudo, maior a taxa de mortalidade pela doença. Um outro ponto destacado consiste na dificuldade de acesso das famílias mais pobres aos estabelecimentos de saúde, tendo em vista que não podem perder um dia de trabalho para cuidar de sua saúde.
ABANDONO
O estado brasileiro é singular no processo de aniquilar o ser humano, mesmo quando no exercício de um direito, seja ele constitucional ou infralegal. No último sábado, me deparei com uma situação triste e revoltante ao mesmo tempo. Conversei com uma pessoa presa no sistema prisional, um indígena Yanomami, condenado a pagar uma pena de 10 anos. Neste dia dos pais ele saiu. Não verá seu pai, muito menos sua família, pois estão todos na comunidade. Além disso, por não possuir relação alguma dentro da cidade, encontra na rua seu único amparo, consequentemente o risco de ser detido e ter acesso a outros benefícios suspensos. Será que o serviço social da SEJUC não acompanha casos como esses de indígenas que cumprem pena de reclusão, ou mesmo, de outras pessoas que integram o sistema e não possuem parentes na cidade de Boa Vista. O processo de recuperação social destes homens e mulheres exige do Estado o cumprimento do direito às saídas, conforme determina a Lei e que deve ser cumprida. No entanto, necessitamos que pessoas que não possuem vínculo familiar com a cidade possam ter o respaldo do poder público para usufruir de seu direito de forma plena, com albergues que permitam sua estadia nestas saídas do sistema prisional.
ATAQUE
Inicialmente gostaria de prestar minha solidariedade a deputada estadual do Rio de Janeiro Mariana do MST que realizada uma reunião em praça pública de prestação de contas de seu mandato, na localidade de Lumiar em Nova Friburgo e de repente foi surpreendida por uma horda de fascistoides que a expulsaram aos berros e empurrões, inclusive com violência fśica contra algumas pessoas que ali se encontravam.
A sociedade brasileira precisa repudiar este ato extremista. Essa é uma prática existente em estados autocráticos, onde as vozes tentam ser silenciadas por manifestações populares de suporte ideológico a determinadas ideias. Não podemos admitir que parlamentares, líderes sindicais e sociais ou qualquer um do povo tenha seu direito a manifestação violada por opositores políticos.
Essa é uma prática fascista e autoritária que amplia a escalada de conflitos e violências. Começam querendo silenciar em praça pública os opositores políticos, depois tentaram restringir a liberdade, por último tiram suas vidas para justificar pela cultura da violência e do medo a hegemonia de um discurso único, o qual se pauta quase que exclusivamente pela linha tênue entre argumento e violência, uma simbiose que caminha cada vez mais em direção a violência.
Esse pode ter sido o primeiro resultado do processo de criminalização do MST, conduzido pela CPI instalada na câmara dos deputados, onde a extrema direita guiada pelo Deputado Zucco (Republicanos/RS) e Ricardo Sales (PL/SP) impõe uma narrativa de criminalização da luta pela terra e das organizações sociais que confrontam os latifúndios e a grilagem de terra. Ao falar no Deputado Sales, lembro que foi recebido neste final de semana em assentamentos do MST com uma linda música de resistência da maravilhosa Beth Carvalho, denominada Ordem e Progresso (inserir link ) que entre as estrofes traz o refrão: Esse é o nosso país. Essa é a nossa bandeira. É por amor a essa pátria Brasil. Que a gente segue em fileiras.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
fabioalmeida.rr@gmail.com
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