Hoje comemoramos o dia mundial da água, recurso estratégico à vida das pessoas, foi considerado patrimônio da humanidade pela ONU, em virtude da ampliação de sua escassez, já uma realidade objetiva para quase 800 milhões de pessoas em todo mundo, especialmente moradores dos continentes africano e asiático. Falar sobre água é falar sobre vida, sobre segurança alimentar, sobre a relação desse recurso natural na sociedade que supere a lógica do lucro, caminho imposto pela burguesia nacional e as grandes corporações financeiras.
Esse dia tão importante será comemorado, em Roraima, com uma das mais importantes crises hídricas vivenciadas pela nossa sociedade. Em 2016, tivemos cerca de 600 localidades sem água no Estado, sendo o pior quadro o de Pacaraima, uma cidade que enfrenta um estresse hídrico significativo, em virtude da ausência de investimentos da CAER, em reservação elevada e apoiada de água, tendo em vista a dificuldade de produção de água na localidade. Neste ano, já ultrapassam mais de 1.000 localidades sem acesso à água potável, inclusive a capital, Boa Vista, possui bairros inteiros sem esse líquido essencial à vida.
Em Mucajaí, 70% da sede urbana enfrenta dificuldade de abastecimento devido à seca no rio Mucajaí, principal fonte de abastecimento da localidade. Enfim, todos os municípios apresentam determinado nível de problema. A ineficiência do governo do estado possibilitou o agravamento desse quadro, amplificado esse ano em virtude do fenômeno meteorológico El Niño. Mas, todos sabíamos dessa realidade, O Governo do Estado promoveu que medidas? Nenhuma. Esperou o agravamento da situação para mais uma vez promover a estruturação de contratos em situação de emergência, a exemplo dos milionários contratos de carro pipa para distribuição de água.
No entanto, precisamos conversar sobre o quadro geral de produção de água em Roraima, especialmente nos centros urbanos que concentram em cidades e vilas mais de 90% da população roraimense. A água não é um bem infinito, parece ser, mas não é. Precisamos promover políticas concretas de proteção de nossos mananciais, sejam esses superficiais ou subterrâneos. No entanto, com exceção de ações isoladas da sociedade organizada, as instituições públicas têm se preocupado pouco com o assunto, cito a ausênciado comitê de bacias do rio Cauamé, vilipendia. Aqui é fundamental debater alguns pontos específicos.
Não protegemos nossos olhos d’água, fundamentais para a manutenção de nosso recurso hídrico. Sejam pastagens, produção agrícola, ou mesmo o processo de urbanização de cidades, o minar de água tem sumido de nossas localidades, interferindo diretamente no processo de distribuição da água, fazendo com que igarapés sequem e o lençol freático rebaixe seu nível. Esse problema não possui relação alguma com o aumento da temperatura, mas sim com a forma irresponsável com que tratamos esse recurso fundamental na nossa vida.
Outro ponto importante a ser considerado consiste na ampliação de processos econômicos baseados na produção de grãos e nas usinas termoelétricas, ambas plantas de produção exigem milhões e milhões de litros de água. Por exemplo, a termelétrica do Cantá, localizada em uma região de estresse hídrico, onde os únicos mananciais que passam por lá são o matá-matá e o surrão, consome 40 mil litros de água para produzir 1 MW de energia. Saídas tecnológicas como essa respondem a efetividade de um manuseio sustentável da água? Acredito que não.
Da mesma forma, a produção de grãos exige um grande consumo de água, estima-se que cada planta, dependendo das condições climáticas, deve ter entre 450 e 800 mm de água em todo seu ciclo, esse período é de no máximo 160 dias, ou seja 5 meses e 10 dias. Para uma quantificação mais clara a UESCO, em um estudo desenvolvido afirma que para cada quilo de soja produzido necessitamos de 1.500 litros de água. Considerando que Roraima produziu em 2023 410 mil toneladas, gastamos em água 61,5 milhões de litros de água. Isso é muita coisa.
compreendo que a água é fundamental para a produção agrícola, por exemplo um quilo de frango exige 6 mil litros de água. No entanto, minha interrogação é se vale a pena liberarmos um crescimento das áreas de soja sem controle, como efetiva a gestão do desgoverno de Denarium, para atender interesses de exportação. Ou seria melhor gastar mais água produzindo alimentos saudáveis que reduziriam preços e nos dariam segurança alimentar? Essas são questões fundamentais a se avaliar quando falamos de água para agricultura. E nós, cidadãos que financiamos esse Estado de benesses para poucos, precisamos participar ativamente desse debate.
Nesta quadra agrícola enfrentamos ainda a contaminação do lençol freático e de nossos mananciais por metais pesados, base da composição química de agrotóxicos utilizados na produção agrícola, especialmente a soja que utiliza glifosato para secagem da cultura na época da colheita. Qual a carga de metais pesados na água consumida pelos roraimenses? Não sabemos dizer em virtude desses estudos e monitoramentos não serem realizados. Por isso, é fundamental no processo de proteção dos nossos aquíferos promovermos a regulação de quais os tipos de agrotóxicos que podem ser usados em nosso território. Não é possível que sob o argumento do crescimento do PIB e da exportação que só serve para enriquecer poucas pessoas, especialmente pelas isenções tributárias existentes, a maioria de nosso povo pague a conta duplamente, seja pelo direcionamento de recursos públicos para esses grandes latifundiários, em forma de subsídios ou isenção e posteriormente tendo água contaminada.
Por último, é necessário falar da privatização da água. As mudanças protagonizadas em agosto de 2020 - quando nosso povo morria das complicações da Covid19 - o governo aprovou a possibilidade de privatização do setor de saneamento, o que além do encarecimento das contas, como sofremos com a privatização da energia em 2019 e a privatização da refinaria de petróleo em Manaus em dezembro de 2022. Teremos o controle privado da água, esse bem será direcionado para onde for maior o lucro, se estiver na exportação lá acabaremos com a sede das pessoas, se for a agricultura morreremos de sede para produzir grãos para exportação. Enfim, precisamos reverter esse quadro e garantir que nossa água em Roraima continue a ser um bem público. Para melhorar os serviços precisamos profissionalizar a companhia, retirando ratazanas, indicadas por políticos, como faz hoje o senadorzinho Mecias de Jesus.
O governo Lula tentou reverter esse quadro quando assumiu o governo, as corporações nacionais e internacionais que veem na privatização do setor de saneamento uma fonte importante da amplificação de seus lucros conseguiu reverter o quadro, mantendo a essência da Lei de privatização do saneamento que tem prazo para se efetivar, o ano de 2033. Veja, no saneamento faremos o mesmo que o governo fez na telefonia. O povo brasileiro investiu em torres de transmissão para adoção da telefonia celular, depois disso, o governo privatizou, o resultado é que temos uma qualidade de serviço péssima e pagamos as tarifas mais caras. O governo agora investirá significativamente nos próximos anos em saneamento, para em 2033, entregar à iniciativa privada. Se permitimos lógico.
Pensar o dia mundial da água é compreender a essencialidade desse bem para nossas vidas. Vendo-o não apenas como um líquido que sai de uma torneira, ou mesmo de um poço amazonas. Mas, sim devemos compreender todo seu contexto de uso, para que possamos limitar possibilidades de escassez. Sofrerão os mais pobres com o que se denominou chamar de racismo ambiental.
Crise em SP
Enquanto o governador de SP apertava a mão do genocida que promove os ataques a Faixa de Gaza, a maior cidade do país enfrentava mais uma crise energética, protagonizada pela empresa Enel, privatizada em 1988. A ausência de investimentos, apesar da distribuição de lucros bilionários. A realidade expõe a falácia de que privatizar é bom, os fatos são notícia em virtude da crise vivida nas periferias ter chegado ao centro de SP. Desta forma, a classe média e a elite econômica se veem afetados por um fenômeno que já atinge, há muitos anos, a população mais pobre. A energia é outro bem essencial à vida que necessita ser administrado pelo Estado, lógico que sem a baderna que existe na atualidade, para isso, concurso público é fundamental e seus diretores devem ser do quadro das empresas estatais, mesmo que sejam indicações políticas. Enfim, privatizar demonstra não ser o melhor modelo.
O vice se foi
O dia de ontem foi marcado pelo abandono do barco do palácio de 9 de julho. A façanha do atual vice-prefeito, Cásio, amigo do senador chorão, conforme relatado nas falas no ato de filiação do político ao PP. A mudança impacta a campanha do mamulengo que ocupa o principal assento da cidade de Boa Vista, promovendo o início de uma debandada de apoiadores rumo ao pasto do governo recheado de denúncias de corrupção e malversação de recursos públicos, prática essa também denunciada e investigada no âmbito do MDB que governa Roraima, desde o ano de 2002. As pessoas que constroem a linha política da plutocracia que governa Roraima e seu projeto de poder agem com muita inteligência. A movimentação em torno do vice-prefeito da capital deve ter custado alto, mas abriu inúmeras possibilidades para candidatura de Catarina Guerra. Hoje, a principal pergunta feita no staff que gere o município é: o que o Cássio sabe? Seguida de outra indagação: quando começará a falar?
Em sua fala, estrategicamente, o atual vice-prefeito pediu apenas o direito de na gestão de Catarina poder desenvolver ações na área da saúde, algo negado pela atual gestão. Aproveito para lembrar que recentemente um vereador oportunista fez denúncias sérias que que o gabinete da secretária municipal de saúde virou um reduto de extorsão e propina. Essa é uma relação que em breve podemos ver o Cássio começar a falar, apesar da gestora sanitária do SUS, de Boa Vista, afirmar que não é propineira. A janela de filiações e troca de partidos termina no próximo dia 05/04, será que o MDB verá outros camundongos abandonarem o barco que parece começar a adornar?
Conferência de Ciência e Tecnologia
Ontem, teve início a 3ª conferência de ciência e tecnologia de Roraima que ocorre nas dependências da UERR. Serão debatidos três eixos centrais que potencializam a integração da ciência com a vida prática das pessoas. O vice-reitor da UFRR, Silvestre, proferiu a intervenção inicial, abordando a temática da necessidade de democratizar a pesquisa e a ciência. No entanto, pouco eram os produtores de pesquisa no plenário que estava lotado de cargos comissionados do governo do Estado. Esse é um debate fundamental, em Roraima, tendo em vista que fomos o último ente federativo a criar o fundo de amparo à pesquisa. No entanto, a desarticulação do Estado com os órgãos financiadores de pesquisa ainda é muito grande, pois o olhar central voltasse exclusivamente às IFES, as quais são estruturas importantes na produção da pesquisa, mas outras instituições federais possuem recursos para financiamento dos projetos, a exemplo da Funasa.
Ação policial
Moradores da região do PA Ajarani, localizado em Iracema, enfrentam uma disputa por terras com fazendeiros que se dizem proprietários das terras, outra hora classificadas como públicas, época em que a maioria dos atuais agricultores familiares entraram na região. No dia de ontem policiais da força nacional realizaram uma operação e detiveram colonos, conforme relatado, sem que existisse mandados de prisão contra as pessoas. Ao final da operação, os policiais foram deliciar um churrasco na residência de um dos fazendeiros que ameaça os colonos de serem expulsos da região. Segundo, algumas fontes da localidade, existe a atuação de grupos armados de fazendeiros ameaçando as pessoas naquela localidade. É necessário que o poder público trabalhe com imparcialidade, não é possível que servidores públicos estejam a oprimir trabalhadores e apreciar benesses oferecidas por pessoas mais ricas. A garantia do assentamento dessas famílias, com a devida regularização de seus lotes é fundamental. Sua transferência para fazendeiros com milhares só demonstra como o Estado caminha de forma equivocada na gestão de terras.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
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