O final de semana se apresenta com um bom debate político a se estabelecer nas mesas regadas a caviar e whisky, costela com cerveja, caldo de fava com cachaça ou mesmo entre aqueles milhões que não possuem o que comer. Na realidade acredito que esses brasileiros e brasileiras não terão na prática tempo para pensar em alianças políticas, lamentável, pois são os mais atacados em seus direitos e garantias individuais e coletivas, negadas pelo estado burguês.
O presidente do PP, Ciro Nogueira, determinou que onde o partido apoiar o PT, nas eleições de 2024, ficará sem receber o fundo eleitoral de campanha. A pressão exercida pelo defensor do bolsonarismo vai além da ameaça, vaticina que a aliança de parlamentares do progressistas com o PT não chegará ao fim das eleições vindouras. O partido do presidente da república e seus aliados do campo progressista e social-democrata - incluo aqui meu partido o PSOL - numa lógica de governar, nas duras condições conjunturais imposta pelas representações do congresso, resolveram aliar-se a Arthur Lira (PP), consubstanciando assim uma possível aliança com o partido. Ciro deixou claro que não é bem assim, o PP caminhará com o reacionarismo capitaneado por Bolsonaro e em Roraima pelo governo eivado de denúncias de corrupção de Denarium.
Esse debate é fundamental para olharmos a atuação política da socialdemocracia, ultimamente fundamentada em alianças heterodoxas que permeiam a busca do sucesso eleitoral, entre os partidos da base de Lula, o PSOL era o único que ainda resistia a cantilena dos urubus, porém a reeleição do Edmilson em Belém e a tentativa de eleição de Boulos levará o partido a um nível espúrio de alianças. Onde o projeto classista será deixado de lado, estando a agremiação de olho cerrado em ganhar o governo, para impor ao povo trabalhador a cartilha liberal do parlamento, mas a ideia aqui é debater Política, não os arranjos da esquerda brasileira.
Ciro Nogueira impõe a necessidade de um debate no âmbito da esquerda, progressistas e sociais democratas. A época do centrão acabou. VIVA! Existem hoje no Brasil projetos polarizados de modelos de Estado, portanto as alianças partidárias deverão representar essa premissa. O campo à esquerda é que sempre estabeleceu uma clara dicotomia nesta quadra, no entanto, nas últimas duas décadas vemos cada vez mais volatilidade na compreensão deste princípio organizativo da gestão pública.
O chamado da direita brasileira, aliada ao extremismo de direita deixa clara sua posição política, não há espaço para confundir o eleitorado, ou seja, a polarização é uma aposta da aliança derrotada em 2022, às eleições de 2026. A esquerda continuará a fechar os olhos e tentar estabelecer alianças inclusive com o PL, como propõe a resolução do PT? É necessário tratar as composições no congresso como alianças pessoais com os indutores de votos, começando a pensar numa tática eleitoral que permita o crescimento da esquerda e centro-esquerda nos parlamentos, espaços fundamentais para conter os arroubos reacionários que se intensificaram a partir de 2025.
Esse é um caminho importante para que a perspectiva de cunho conservador/religioso com viés reacionário possa ser combatida de forma unitária pelo campo dos partidos revolucionários e sociais-democratas. A partir dessa nova realidade é fundamental que as nossas composições partidárias comecem a traçar caminhos e programas que fortaleçam nossa atuação no campo de ruptura com a lógica de concentração de renda e riqueza, existente no país.
Combater o viés pesudo-nacionalista do bolsonarismo não é uma tarefa fácil. Esse nacionalismo historicamente é uma marca da extrema direita no mundo. Ao tempo que propõe a expulsão de imigrantes, promovem a proposta da entrega de terras a estrangeiros, como fez o governo Bolsonaro. Essas são contradições desses reacionários que precisam ser exploradas, ao passo que devemos apresentar nosso programa de distribuição democrática do acesso a terra. O caminho é por aqui, não ladeando a extrema direita ou à direita, catando vitória com projetos de cunho liberal que atingem a vida da classe trabalhadora.
Roraima, pode ser observado como um exemplo clássico deste processo, onde durante anos abdicamos de um processo de tentativa de unidade no campo da esquerda e centro esquerda, em torno de um programa mínimo de unidade política, mesmo que as táticas eleitorais não sejam coincidentes - apesar de acreditar que na atual quadra histórica devem ser coincidentes - nossa inércia em estabelecer um diálogo permanente com a classe trabalhadora levou a consolidação de uma aristocracia que flerta com o reacionarismo que cresce no país e no mundo.
Necessitamos construir um espaço de diálogo permanente entre os partidos PSOL, PDT, PSB, PT, REDE, PCB, PSTU, PV e UP que preconize uma ação conjunta no combate à extrema direita e a direita no Estado. Nossa incapacidade imporá cada vez mais retrocessos objetivos à classe trabalhadora. Precisamos ganhar as ruas em defesa das minorias políticas, dos serviços públicos, contra privatizações, pela geração de emprego e distribuição de renda, moradia popular, na defesa do meio ambiente, na valorização dos pescadores artesanais e no desenvolvimento da agricultura familiar e de cooperativas populares de produção industrial, além lógico da defesa irrestrita dos direitos dos povos indígenas, das mulheres, da comunidade LGBTQIA+ e da população negra.
Essas são pautas que coincidem entre os partidos mencionados, uma carta assinada por essas agremiações possibilitará claramente um processo de recomposição dessas forças no debate político local. Agora, se mantivermos os projetos eleitorais como balizadores de nossas atuações, iremos obter nas duas próximas eleições outras derrotas, a exemplo dos dois últimos pleitos eleitorais. A compreensão de que Roraima é um Estado de direita, para minha pessoa é uma verdade que não pode ser vista como absoluta.
O caminho em torno do bolsonarismo reacionário e golpista de 2022, indicado pela maior parte do eleitorado roraimense é fruto da nossa incapacidade de projetar uma oposição organizada aos governos de plantão, que nadam livres com seus esquemas de corrupção e descaso com os serviços públicos, sem serem contestados de forma organizada por uma oposição à esquerda. Não haverá espaço de mudança se continuarmos acanhados politicamente. É preciso dialogar com o povo, mostrando uma saída possível ao estado de abandono humano, o qual visualiza apenas a saída por meio da fé, não da política.
Esse debate franco precisa ser estabelecido entre nossas forças políticas, esse é um compromisso de classe que temos a obrigação de estabelecer, independente de nossas divergências nacionais, precisamos como afirma Lênin entender que a história é escrita por aqueles que possuem coragem de se levantar contra a opressão e lutar por um mundo melhor. Independente das eleições, devemos trilhar um caminho de unidade e ação em Roraima.
Presidência do G20
O Brasil na próxima semana assumirá por um período de um ano a presidência do organismo internacional que envolve as 20 maiores economias do mundo. A cada dia esse espaço multilateral assume mais importância que o G7 que contempla as 7 maiores economias. A exemplo do que ocorreu na presidência do conselho de segurança enfrentaremos tempos muito difíceis em virtude dos conflitos bélicos que tendem a perdurar em vários quadrantes do mundo, interferindo diretamente na qualidade de vida das pessoas e no aumento da pobreza e da concentração de renda. O governo brasileiro lançou, ontem, um grupo de trabalho para gestão dos processos à frente do G20, priorizando três temas centrais: o combate à pobreza, a transição energética e os processos das dívidas soberanas dos países pobres.
A adoção de centralidade no primeiro e último tema permitirá a construção de acordos internacionais que permitam uma conjugação de esforços para redirecionar os processos da divisão internacional do trabalho que relega a países em desenvolvimento uma posição de segunda ou terceira classe no cenário internacional. Uma das propostas a ser apresentadas consiste em remuneração das nações pobres pela preservação de suas florestas, algo primordial, no entanto é necessário que internamente esse dinheiro possa garantir qualidade de vida aos trabalhadores e trabalhadoras das florestas, águas e campos.
Sempre o Queiroz!
Alexandre Santini, ex-sócio de Flávio Bolsonaro na fantástica loja de chocolate que mantinham em um shopping do Rio de Janeiro, esteve no início de novembro andando por Brasília para cobrar dívidas do senador Flávio (Republicano). Ao não conseguir os pagamentos almejados, começou a anunciar que possuía provas que levariam o filho mais velho de Bolsonaro para cadeia. A imprensa tratou o assunto de forma superficial, no entanto, o site metrópoles que não mede esforços para furar a imprensa publicou audios de whatsAPP entre Fabrício Queiroz e Alexandre Santini. Nos áudios Queiroz pede dinheiro e manda o empresário cobrar os pagamentos do “amigo”, não fica claro se esse gentil amigo é o filho ou o próprio pai do clã Bolsonaro. A realidade objetiva consiste que os dados demonstram a promiscuidade e a forma como as pessoas que cercavam a horda de golpistas, do vivendas da barra, embrenharam-se no estado por meio da ocupação de postos chaves. As cobranças de Queiroz vão de dinheiro para feira de natal ao pagamento da faculdade de uma das filhas. Aproveita, nos áudios, para reclamar que apenas ele não se deu bem na vitória de Bolsonaro, todos os demais ganharam muita grana, chega ainda a citar alguns negócios. Comprovada a veracidade das vozes é fundamental que o marginal tenha sua prisão domiciliar revogada e seja convocado a depor e explicar as coisas.
Avanço da extrema direita
Geert Wilders lidera o partido pela liberdade na Holanda, considerado um partido de extrema direita, cujo líder possui como inspiração as ações de Viktor Orbán, primeiro ministro húngaro. A campanha foi idealizada sobre as premissas da criminalização do islã e da imigração, a exemplo de Orbán, Wilders é adepto a teorias de expulsão de imigrantes e proibição da circulação do alcorão em território holandes. Ele ainda defende a saída do país do bloco da união europeia, fazendo com que mais uma nação levante sua voz nacionalista contra os caminhos de unidade econômica, cultural e social impostas aos países, fragilizando a já combalida unidade política do bloco.
A conquista da maioria no parlamento não significa a condição de governar, pois é preciso construir uma maioria de 76 das 150 cadeiras do parlamento. Faltam para isso convencer outras agremiações a integrar o novo governo, para isso necessita de mais 39 parlamentares. A aliança entre a esquerda e verdes com 25 cadeiras, segunda força política, já anunciou que não deve integrar a composição de governo, restando negociações com outras organizações extremistas que elegeram parlamentares e uma possível composição com os partidos de centro-direita: popular pela liberdade e democracia, novo contrato social, social liberal, movimento agro-cidadão e apelo democrata-cristão, respectivamente com 24, 20, 9, 7, 5 assentos.
A extrema direita governa hoje a Itália, Polônia e Hungria, além de integrarem os governos de direita na Finlandia e Suécia, além de crescer na Alemanha. Na Espanha apesar do crescimento eleitoral do VOX sua participação no governo não conseguiu êxito em virtude do PP não ter conseguido consolidar uma maioria no parlamento. No entanto, os resultados eleitorais demonstram que o movimento internacional dos extremistas de direita ganha corpo, ante o fracasso da social-democracia e a inerte atuação dos partidos revolucionários de esquerda.
Menos grana
Sob a lógica de um debate sobre orçamento, o governo conseguiu autorização do TCU para deixar de investir 18% em educação e 15% em saúde, em 2023, conforme estabelece o novo arcabouço fiscal. O argumento do ministério da fazenda foi que o orçamento foi elaborado sob a égide do teto de gastos que não previa esse nível de investimento. Segundo o relator no TCU, Augusto Nardes - defensor do fim das vinculações orçamentárias que impõe a constituição - não pode o governo ser obrigado a cumprir exigências de investimentos no ano de aprovação das regras fiscais. Desta forma, o governo poderá deixar de investir recursos na educação e na saúde dos brasileiros, enquanto continua a priorizar o pagamento de bancos e especuladores financeiros. O comprometimento do orçamento com essa despesa já chega a 42,5% do financeiro aplicado. Esse deve ser o debate central a ser feito no país, não o corte de recursos na educação e saúde.
EJA
Um grupo de alunos procurou a ALE/RR para reclamar e solicitar a reversão da intenção do governador Denarium, o Cassado, de encerrar as atividades da educação de jovens e adultos desenvolvidas na escola estadual Lobo D’Almada. Enquanto, licitações milionárias como as de manutenção e conservação do HGR são encaminhadas, a gestão estadual tenta cortar despesas na oferta do acesso à educação da classe trabalhadora. É necessário que a sociedade roraimense combata esse tipo de ato que significa um contrassenso humanitário, no entanto expõe a verdadeira face deste governo dos ricos.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
fabioalmeida.rr@gmail.com
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