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27/02/2023

Foto do escritor: Fabio AlmeidaFabio Almeida

Ao som da correnteza do igarapé água boa as palavras, os abraços e a alegria espalhou-se pelo Recanto da Dió. A magia do lavrado permitiu, com seus pés de murici, a música entoar o balançar de corpos, o samba no pé e o carimbó na veia. A palhoça de tantos encontros voltou a ecoar, em sua essência mais plena, o grito de alegria.


As rodas de conversa possibilitam encontros de gerações, vozes não silenciadas na busca de transformar a realidade imposta pela exclusão social, lógico cada qual ao seu modo, no seu ritmo, porém comprometidas com a reviravolta desta desigualdade que nos transforma em um dos Estados mais injustos do país.


Os peixes ainda enfeitam as águas boas da região, o mesmo não podemos falar dos igarapés Ai Grande e Caxangá que atravessam o trecho urbano norte da BR 174 e exalam uma podridão angustiante, o odor parece não incomodar o poder público que não toma nenhuma iniciativa para reverter o quadro de morte de nossos igarapés urbanos.


Uma das conversas permitiram que pudéssemos discorrer sobre as condições salubres de nossos igarapés. A zona rural, da nossa querida Boa Vista, é ocupada por vastas áreas de monocultura, principalmente de soja. Toda produção agrícola, em larga escala territorial exige processos de controle de pragas, o agrotóxico – que não tem nada de POP – é uma ferramenta utilizada de forma indiscriminada nestas bandas da Amazônia setentrional. Estamos expostos a altas cargas de metais pesados?


A chuva de sexta-feira transformou a claras águas em um espelho sem reflexo. Uma água leitosa, fruto do assoreamento – devido o gradeamento de várias áreas do lavrado – e em nossas preocupações também as cargas de veneno e fertilizantes jogados a esmo, até mesmo de avião – ação que expõe o meio ambiente e as pessoas a riscos enormes de contaminação. É urgente que o Estado de Roraima, a ANA e outros órgãos competentes comecem a demonstrar a potabilidade de uso para banho destes mananciais próximos aos grandes latifúndios de soja ou outros grãos.


É fundamental não permitir que o legado ambiental de hoje, venha a perder suas características, transformando as veias da vida que cortam nosso lavrado, em espaços da contaminação, do adoecimento e de lembranças. Ampliar a luta pela defesa de nossos mananciais é defender a vida. Não quero neste momento levantar uma bandeira contra a produção de grãos, mas é necessário a adoção de técnicas produtivas que permitam aos nossos igarapés a continuidade de seu fluxo reprodutor translúcido, não se tornando um lugar sombrio, como o são os corredores de negociações do agronegócio em Roraima.


O CarnaDió de 2023 produziu um reencontro importante, após a pandemia que nos maltratou muito, seja com a perda de parentes e amigos, seja com a ampliação da pobreza e das desigualdades no país. Juntos cantamos e brindamos por conquistas importantes, dentre elas, uma que não pode deixar de ser mencionada, a defesa do amor foi entoada em vozes maravilhosas que encantam ritmos contagiantes, expressando o respeito e a solidariedade humana, por meio de tambores, violões, maracás, pandeiros e um fio que nos deixou sem luz artificial, permitindo que o brilho no olhar, de cada pessoa presente, pudesse iluminar a noite de 25/02/2023.

 

O QUE É ISSO “COMPANHEIRO”?

O liberal transvestido de socialista, Chico Rodrigues, Senador da República, depois do nome citado na CPI da Saúde, ser flagranteado com dinheiro escondido na cueca e ter empregado o sobrinho de Bolsonaro – preso em virtude da invasão aos poderes da República – ganhou de brinde conduzir os trabalhos da Comissão Temporária Externa para acompanhar a situação dos Yanomami e a saída dos garimpeiros.

Ante suas posições em defesa do garimpo, a comissão deveria ser denominada comissão pró-garimpo, pois além de Chico, os dois outros senadores por Roraima, Mecias e Hiran, tiveram na campanha de 2022, uma posição em defesa da liberdade do garimpo e na necessidade de regularizar a ação garimpeira em terras indígenas, os 3 são favoráveis ao PL 191/2020 que busca autorizar a ocupação de territórios indígenas por garimpeiros e mineradoras.

É importante que o Congresso Nacional acompanhe a grave crise sanitária e ambiental que se estabeleceu, na TI Yanomami, com a invasão coordenada por empresários e políticos para extrair minérios, principalmente ouro e cassiterita. As investigações batem na porta de muito peixe graúdo de Roraima, alguns inclusive criaram campanhas favoráveis as demandas dos povos indígenas, para tentar se desvincular dos atos e falas que contribuíram com o genocídio promovido no noroeste e sudoeste de Roraima.

Nesta momentânea ocupação do cargo de Presidente da “comissão pró-garimpo”, o senador Chico Rodrigues, se achou no direito de sozinho solicitar uma aeronave do exército brasileiro e sobrevoar a área, pousando em Surucucu. Ninguém mais sabe aonde desceu o brucutu. Há 32 anos, outros atores, inclusive um ex-Senador, andaram sobrevoando a TI Yanomami, um pouco antes da desintrusão promovida pelo Governo Federal, as histórias contadas pelos garimpeiros são escabrosas. Será que o atual Senador quis reeditar o reencontro do Senado com os Garimpeiros?

 

ATAQUES NA TI YANOMAMI

A reconquista de um território é mais difícil, isso ocorre na TI Yanomami com a desintrusão da área, consequentemente a retirada de garimpeiros. Porém o garimpo de hoje, não é igual ao de outra hora. Há 30 anos – como quer Denarium retroagir no tempo para esmilinguir suas responsabilidades – tínhamos uma mexida de terra mais manual do que mecânica, a destruição e a poluição ambiental existiam também, porém numa escala menor. Outra mudança, consiste na entrada de organizações criminosas no negócio. Um truste internacional do crime se faz presente no garimpo que mata povos indígenas. Por chegar perto destas locas da comercialização de drogas, armas, tráfico de pessoas, mais também, do ouro dourado de sangue dos povos da TI Yanomami que as coisas começam a ficar mais difíceis e perigosas às forças de segurança.

 

BC E A FARRA DO JURO

O Banco Central do Brasil, presidido pelo neoliberal Campos Neto – isso mesmo, neto daquele Roberto Campos que deu suporte a Ditadura Militar, sendo da ARENA e posteriormente do PDS e afirmava no livro Na Virada do Milênio “Quem se preocupa sinceramente com os pobres deve buscar, obsessivamente, elevar a demanda de mão-de-obra através de medidas como: a) A privatização de empresas estatais, pois o Governo falido perdeu a capacidade de investir; b) A eliminação de restrições ao capital estrangeiro, que geraria empregos e traria tecnologia; A diminuição dos encargos sociais e burocráticos que oneram o custo de contratação".

Desde 1964, quando assumiu o Ministério do Planejamento, no Governo Ditatorial de Castelo Branco, o Brasil segue essa tríade, a diferença é apenas na lógica do papel do Estado no financiamento da atividade econômica. Porém, em todos esses anos nos deparamos com o aumento da pobreza no país. Deixamos de ter uma indústria incipiente, para nos tornarmos uma montadora eficiente aos interesses do mercado, graças a abertura ao capital internacional. Além disso, nos tornamos com Campos Neto, o país ideal para rentistas – nome bonito para especuladores financeiros - que apenas em janeiro, deste ano, já levaram UU$ 8,1 bilhões em juros e tivemos que contrair uma nova dívida para pagar o vencimento dos papéis neste mesmo janeiro, no valor de UU$ 81,2 bilhões.

Enfim, o Estado mínimo defendido pelos neoliberais serve apenas para cortar direitos da classe trabalhadora, pois na prática garantem uma boa remuneração com essa política monetária, permitindo muito ganho de capital a quem tem muito dinheiro. Nunca o receituário neoliberal surtiu efeitos positivos, veja a realidade que vivemos no consumo de derivados de petróleo, cada vez mais importamos combustível, gerando empregos lá fora, quando deveríamos dá condições de trabalho por cá, o nacionalismo destes ditos liberais é pensado apenas para eleição e depois na proteção dos interesses dos mais ricos. O pior são essas nações imperialistas não perceberem que sua política econômica errada movimentará pessoas para seus países.

 

RECEITA FEDERAL

A denúncia de uso da Receita Federal por aliado de Bolsonaro para tentar atingir adversários políticos demonstra que no Governo anterior não havia limites legais ou constitucionais na tentativa da manutenção do poder político. A utilização da máquina estatal foi além dos bilhões derramados para tentar a reeleição, ultrapassou inclusive o caminho da dolarização da economia, afetando diretamente a vida da classe trabalhadora que ganha em real. Chegaram ao crime de vasculhar dados financeiros e contábeis de adversários para auferir ganhos políticos com chantagem. Essa arapongagem demonstra que quanto mais acesso as informações e mais investigação for realizada mais crimes vamos conhecer praticados por bolsonaro e seus aliados.

 

O IRÃ ATRACOU

Dois navios de guerra iranianos solicitaram e tiveram autorização para atracarem em território brasileiro, o porta-helicópteros IRIS Makran e a fragata IRIS Dena aportaram no Rio de Janeiro, onde permanecerão até o dia 04/03/2023. A autorização concedida pela Marinha e Itamaraty ocorreu sobre protestos dos estadunidenses. O Governo pronunciou-se por meio de sua embaixadora Elizabeth Bagley, no mesmo dia em que o senhor John Kerry, autoridade do clima, no Governo dos EUA, chegou as terras de Pindorama. A posição geopolítica do Brasil é importante para demonstrar que uma aliança política não pode se tornar uma relação de vassalagem entre 2 Estados nações.

 

MPF ACERTA

A posição do Ministério Público Federal (MPF) em acatar a condenação do estuprador Robinho, ex-jogador de futebol, é coerente e demonstra que o poder público brasileiro não admitirá aos criminosos que violentam mulheres as benesses e a proteção do Estado brasileiro. Nos resta agora o pronunciamento do STJ, instância responsável por determinar a prisão e o cumprimento da pena de 9 anos, determinada pela justiça italiana, ao ex-jogador, por ter participado de um estupro coletivo em Milão.


Boa tarde. Um forte abraço.

 

Fábio Almeida

Jornalista e Historiador

 
 
 

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