No último domingo vimos mais uma vez a Venezuela se transformar em centro do debate político, em virtude de uma nova eleição presidencial no país que ainda dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo. Até 1999, funcionava como um mero fornecedor estadunidense deste produto. Com a ascensão de Chaves e sua perspectiva nacionalista, o poder influenciador dos EUA reduz-se a cada ano, até a proclamação das ordens executivas que impediram a Venezuela de comercializar seu principal produto de exportação. O caos estabelecesse como estrutura social, especialmente a partir de 2017.
As eleições de 2024 contaram com 9 candidatos, sendo 8 de oposição e com vários vínculos com segmentos religiosos. Situação que caminha ao lado de Maduro que possui o apoio da igreja Universal Venezuelana. Alguns cientistas políticos afirmam que as eleições venezuelanas se transformaram em uma disputa religiosa de fragmentos do cristianismo, algo muito grave no contexto da consolidação de um Estado plurinacional, como defendia alguns segmentos de sustentação do chavismo, nos idos de 2000.
Essas eleições trouxeram uma novidade no âmbito do chavismo que consiste em um conjunto de alianças políticas que vão do anarquismo ao comunismo. O movimento encontrava-se fracionado em virtude das diretrizes autocráticas do Governo e as frequentes denúncias de corrupção. No entanto, a imposição dos EUA e vários países satélites dos embargos econômicos possibilitou a construção de novos laços de unidade que se refletiram em uma ampla aliança eleitoral em defesa da autodeterminação do povo venezuelano, contra os embargos e o pacote liberal defendido pelo principal candidato da oposição nas eleições.
No outro campo temos um projeto neoliberal capitaneado por Maria Corina Machado que teve sua candidatura rejeitada pelo CNE por descumprir obrigações legais, dentre elas ter incentivado um golpe de Estado. Os dois programas distintos foram alvo de avaliação nas eleições. No entanto, a posição do candidato Gonçalez de que sob seu governo os embargos deixariam de existir, e, os filhos e filhas da Venezuela, que protagonizam uma das maiores diásporas da história recente, retornariam, criou uma grande dúvida sobre a autonomia efetiva de um futuro governo seu em defender os interesses do povo.
O resultado eleitoral divulgado por volta da meia-noite de 29/07/2024, pelo CNE, considerou Maduro reeleito com 51,2% dos votos válidos. Segundo os dados, cerca de 56% dos 21 milhões de eleitores foram às urnas. O presidente reeleito manteve a mesma performance eleitoral das últimas eleições presidenciais, ganhando o pleito com pouco mais de 51%. A diferença é que os votos da oposição distribuíram-se por outras candidaturas que somaram cerca de 5% dos votos válidos.
Infelizmente a oposição mais uma vez contesta o resultado alegando fraude eleitoral. No entanto, cometeram um tremendo erro ao afirmar que tiveram acesso a 70% das atas eleitorais apuradas. Algo possível pois todas as atas são tornadas públicas em cada seção eleitoral. Mas, também colocam em xeque a lisura da oposição, pois o CNE afirmou ter sofrido um ataque hacker em seu sistema eleitoral de transmissão de dados. Pior foi afirmarem que não poderiam disponibilizar as atas em poder da oposiçã, retirando, assim, qualquer credibilidade em suas alegaçõesde fraude. Já o CNE afirma que não tem como disponibilizar as atas devido ao ataque cibernético, prometendo sua divulgação até as 18h de amanhã, prazo final determinado pela Lei.
É fundamental que o CNE, estrutura que equivocadamente deu posse a Maduro na data de ontem, disponibilize a integralidade das atas, caso contrário não haverá sustentação política da continuidade do governo Maduro, transformando a fronteira roraimense em uma tensa região de disputa bélica. Mas, também é fundamental que a oposição disponibilize seu material, se esse existir. O que não é possível é inflamar a população contra o governo colocando em risco a vida de milhares de pessoas que serão duramente reprimidas.
Em tempos de grandes transformações sociopolíticas e consolidação de um mundo multipolar teremos muitas novas estruturas a convivermos. Dentre elas o crescimento de projetos nacionalistas de cunho populista, essa uma das principais características de governos latinoamericanos, independente da matriz ideológica. Neste contexto, governos autocratas tendem a se constituir e marcar a forte presença geracional, principalmente em virtude do apoderamento de fiéis neopentecostais que são negociados por seus líderes religiosos. Isso faz, por exemplo, Maduro ter apoio da igreja universal da Venezuela. A religião consiste em um projeto político adequado aos interesses supremacistas de alguns líderes.
Os países infelizmente ampliam o processo de disputa interna existente na Venezuela. Em 2016, criaram um falso presidente, Juan Guaido, que inclusive pode movimentar as riquezas venezuelanas existentes em bancos na Europa e EUA, um crime contra a soberania de um povo. Agora, vários países insuflam a oposição a mais uma vez não aceitarem os resultados eleitorais, ampliando os riscos concretos as relações sociais entre os campos oposicionistas que utilizam o povo para fundamentar seus interesses de poder, lembro que as principais estruturas políticas venezuelanas possuem milícias armadas.
É preciso que os embargos sejam suspensos e a Venezuela possa retomar sua inserção econômica de forma plena, inclusive com a retomada de suas refinarias localizadas nos EUA. Também é necessário que a oposição e a situação sejam transparente em relação ao processo eleitoral, contendo conflitos que possam colocar em risco a vida de venezuelanos. Já nós aqui nas terras de Makuinai’mî teremos que conviver com outras ondas migratórias incentivadas pela violência e a fome potencializada pelos embargos econômicos impostos à Venezuela, pelos EUA e outros países aliados.
Extrema Direita…
…brasileira deve estar revoltada com a vitória de Maduro. Em 2019, tentou-se um golpe de Estado com apoio de Bolsonaro, Trump e Duque. Maduro e sua aliança bolivariana resistiram, expondo o povo a ampla dificuldades em virtude do isolacionismo econômico, pautado em mais de 900 sanções. O cúmulo das sanções foi a proibição da compra de insumos médicos na pandemia da Covid19, um crime de lesa humanidade cometido pela direita mundial. No último domingo, Bolsonaro e seus aliados devem ter ficado muito tristes ao afirmar que houve um golpe eleitoral na Venezuela, quando eles não tiveram competência de conduzir o mesmo aqui em Pindorama. O choro deve tá grande, especialmente se for provado a efetividade de fraude eleitoral, algo que acredito ser impossível.
União Brasil
Informações recebidas diretamente de uma fonte afirmam que o partido resolveu apresentar o nome de Catarina Guerra como candidata ao Palácio 9 de Julho. A derrota de Nicoletti reflete a completa ausência de perspicácia política do Deputado Federal que com um super-ego acredita que política se constrói da forma que ele quer. Na realidade os atos de ameaça do governo estadual de corte de todos os espaços do menino chorão devem ter pesado. Agora, Nicoletti tentará culpar a executiva nacional que viu o bolsonarista ter seu nome rejeitado pelo ex-presidente, em detrimento do apoio deste ao MDB. Enfim, a fraude política cada vez mais demonstra-se claramente no cenário político com a submissão de mandatários aos interesses de Denarium. Parece que até o deputado Sampaio fechou um acordo e o governo apoiará alguma de suas candidaturas majoritárias. Enfim, todos juntos como antes no quartel de Abrantes. Já nós sofremos com a ausência de propostas concretas do que se denomina progressismo em Roraima.
Grilagem
O senador Zequinha Marinho (Podemos/PA), líder da bancada evangélica do Senado Federal, teve aceita no STF a denúncia do MPF paraense que aponta o político como integrante de uma organização criminosa que trabalha para conter as ações do Estado contra grilagem de terras públicas nos rincões da resistência popular denominada Cabanagem. A relatora do caso será a ministra Cármen Lúcia, que julgará as provas levantadas que comprovam a prática de advocacia administrativa, cometida pelo senador em favor de grileiros que ocupavam ilegalmente terras dentro da área indigena Ituna-Itatá. As investigações começaram em 2022, após uma ação das forças de segurança e fiscalização federais na região que comprovaram a prática de desmatamento e grilagem de terras para comercialização. Segundo as investigações, o parlamentar atuou em Brasília para defender os interesses de Jassônio Leite, considerado um dos maiores grileiros de terra da Amazônia.
Criança Yanomami
Uma menina Yanomami foi sequestrada neste final de semana na região de Campos Novos (Iracema/RR), com 5 anos a criança foi levada enquanto seu pai estava embriagado na vicinal 6. Felizmente ela foi encontrada no município de Mucajaí, existe a suspeita de ter sido abusada sexualmente. Dois pontos merecem destaque nesta situação.
A primeira delas consiste no descontrole de tráfego de pessoas nestes sistema alternativo de transporte intermunicipal. A polícia encontrou a criança dentro de uma Van com seu sequestrador. Isso caracteriza que não existe controle algum sobre o transporte de crianças nestes sistemas de transporte. Debater essa situação é necessário tendo em vista que figuramos em uma área de grande fluxo no tráfico de pessoas, especialmente crianças. É necessário que o governo estadual normatize regras e punições claras ao transporte irregular de crianças nos transportes alternativos que fazem a interligação entre nossos municípios.
A outra questão consiste no flagelo humano vivenciado pelos Yanomami na região do Ajarani, localizada no município de Iracema. Essa é uma região com muitas fazendas e vários assentamentos da reforma agrária que encontram nesses indígenas uma mão de obra barata, análoga a escravidam, muitas vezes a remuneração dos trabalhadores indígenas é realizada com comida e cachaça. Esse quadro apesar de ser uma realidade conhecida dos órgãos federais e estaduais, não fomenta ações do poder público na formulação de uma estratégia de atuação que permita que esses indígenas retornem a suas comunidades e possam ganhar dinheiro produzindo em seus territórios.
Isso mesmo, produzindo! Parece estranho, mas o nível de aculturamento econômico é muito grande, além do crescimento das comunidades começar a impor limites na caça e na coleta como forma de saciar a fome. A única culpa da vulnerabilidade enfrentada pelas crianças Yanomami nas ruas de nossas cidades são dos órgãos de proteção, especialmente da Frente Etnoambiental de Proteção Yanomami/Ye’kuana que é incapaz de promover articulações que visem a melhoria da qualidade de vida dos indígenas, estejam eles em seu território ou nas cidades.
Bom dia, com alegria.
Fábio Almeida
ความคิดเห็น