Coluna Tucandeira – 22/03/2025
- Fabio Almeida
- 22 de mar.
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No último dia 16/03, meu velho pai deveria completar 77 anos, infelizmente um câncer de pulmão fulminante o tirou de nossas vidas no ano de 2006, 19 anos atrás, perdemos um dos grandes articulistas da imprensa paraibana. Filho de sapateiro foi forjado na lida, ajudando sua mãe a criar os irmãos mais novos. O trabalho, o sindicato e a política forjaram um homem que viveu pouco, mas intensamente seus momentos de alegria e amargamente suas histórias de tristezas.
Advogado, escolheu nos textos da imprensa paraibana e nacional o caminho de sustento econômico. Algo complicado, pois exigia alianças com o sistema político local, estruturado entre oligarquias que historicamente assaltam o poder. A simplicidade da vida foi fruto da boemia como fundamento necessário a consolidação de fatos, notícias e reportagens, e, de sua existência como pessoa. Sem o celular, almoços e jantares regados a bebida e cigarro eram os espaços necessários ao diálogo e verificação de acontecimentos.
Os artigos e as colunas mantidas refletiam as contradições da vida, bem como os avanços possibilitados pelo desenvolvimento econômico – apesar de desigual. Um desses textos, meu Pai, analisou a dificuldade de acesso a comida, ao mensurar o preço do ovo. Diferente de hoje, o custo do produto na época era pela escassez do produto, não devido à exportação, como nos dias atuais, mas sim, na baixa capacidade produtiva e de circulação de mercadorias que nosso povo enfrentava nos idos dos anos 1950. 40 anos depois, após a crise de alimentos e preços, enfrentada na década de 1980, que corroía os o valor dos salários, vimos o processo de estabilização da moeda, concomitante ao avanço do processo de produção. Assim, o ovo, o frango e a carne podiam ser compradas em qualquer bodega.
Assim, pode-se afirmar que a democratização não foi apenas política, no país, mas também, alimentar. Apesar de politicamente encontra-se no campo da centro-direita, terminou sua vida vendo as condições das pessoas mais pobres mudarem com as políticas do primeiro governo Lula. Na época afirmava que o Presidente estava correto em promover a circulação de moeda e permitir que as pessoas pudessem ter dinheiro no bolso. Assim, o dinamismo econômico poderia promover transformações ante as distorções da falta de moradia, comida, saúde, educação, ou seja, dignidade de vida, situação vivida por parcelas visíveis e silenciadas de larga parcela populacional.
Combateu ferozmente a ditadura, primava pelo campo democrático e a liberdade opinativa dos jornalistas. Não é à toa que como editor do jornal “A União” – veículo oficial da comunicação do governo paraibano – colocou na primeira página o editorial com o título “A podridão voltou” mensurando o retorno de Tarcísio Buriti ao governo naquele estado. Campina Grande, sua cidade natal, sempre foi defendida com vigor, ante o abandono dos governantes, especialmente, nos idos anos, posteriores a década de 1970, onde o esgoto trafegava junto aos pés e pneus pela cidade. Uma fedentina generalizada exalava das ruas da menina da Serra da Borborema. Hoje, melhorou um pouco, mas essa ainda é uma realidade em muitos bairros.
Foi Arlindo Almeida que me possibilitou em 1989 entrevistar Brizola (PDT), quando da pré-campanha a Presidência da República. A chegada do presidenciável no aeroporto Castro Pinto – governador da Paraíba entre 1912 e 1915 – possibilitou que um menino assustado pudesse segurar o microfone enquanto Brizola fazia seu primeiro pronunciamento nas terras dos Tabajaras. Outro momento mágico, quando de uma fase de desemprego na imprensa paraibana, imposto pelo braço do Estado e o desejo de Buriti, painho, trabalhou correspondente do Jornal o Estado de São Paulo. Aqui tive uma outra oportunidade de acompanhar seu trabalho. Fomos produzir a primeira matéria da praia de Tambaba, o primeiro ambiente da prática de nudismo no Brasil. Esses dois momentos marcaram muito minha vida, pelo encanto de ver a possibilidade de contar histórias.
Enfim, a saudade é algo bom, pois nos permite lembrar a existência de alguém que forjou minha vida. Seria bom ter meu pai por aqui para juntos conversarmos sobre o reacionarismo intelectual que voltou a denominar a disputa política no Brasil. Sei que seria doloroso para ele ver vasta representação social brasileira defender novamente um golpe de estado, a exemplo do que fez parte da classe média e a burguesia em 1964. O pior é um extremista que almeja a consolidação de uma teocracia, como Silas Malafaia, ser alçado a um papel político por Bolsonaro.
Acredito painho, a exemplo do passado teremos a competência de reverter esse quadro político, onde o ódio é a principal ferramenta da atuação social de parte dos representantes. Sendo a desregulada rede mundial de computadores, aquela onde iria surgir o JampaNews em 2006, um ponto de disseminação da opressão de classe que organiza nosso mundo nos últimos 200 anos, tendo como principal amalgamador de consciências, o Deus Cristão punitivo do velho testamento, aquele que mata, exila, expulsa e renega. Isso, tudo organizado mitologicamente por meio de duas teorias a da prosperidade e a do domínio.
Mas, as relações sociais são dialéticas e fundamentadas em torno de seu materialismo histórico, os rumos da extrema-direita, demonstra que a fase de financeirização do capital consolidou-se, sendo a autocracia o único caminho para manutenção dos ganhos da burguesia. Isso, demonstra que a revolução das relações de produção aproxima-se como uma realidade objetiva. Para isso, necessitamos de uma esquerda que mantenha seu papel político pela democratização dos meios de produção, porém, atualizadas a nova realidade vivenciada pelo povo, pois as formas de organização humana superam a rigidez existentes nos idos anos do início do século XX.
Orçamento
A aprovação, pelo Congresso Nacional, da peça orçamentária anual, na última quarta-feira, consiste na solução do primeiro embate político de Gleisi Hoffmann, aspecto importante à vida de nosso povo que vinha sendo deixado de lado pelo congresso nacional desde Dezembro. Por exemplo, o prazo para apresentação das declarações de imposto de renda começou com o programa da Receita Federal sem computar a correção da tabela de R$2,8 mil para R$3,03 mil. Investimentos suspensos, até mesmo a liberação de recursos do Plano Safra, a bilionária poupança anual dos grandes produtores de comodities, teve que ser suspensa, forçando o governo editar uma medida provisória.
Infelizmente, a saúde pública não possui uma bancada parlamentar para forçar uma medida provisória que permitisse a continuidade de obras que deveriam ser pagas com recursos do exercício financeiro de 2025. A ex-Presidente Dilma, em 2015, sofreu com isso. O orçamento foi aprovado apenas em junho, cerca de 30 dias depois, o extremista de direita Eduardo Cunha, acatou o pedido de impedimento com base em pedaladas fiscais em marco e abril, tendo em vista que o orçamento vedava os atos administrativos tomados. Por isso, o STF, no ano de 2024 assumiu que não houve o que se denominou de “pedalada fiscal”, mas, não pediu desculpas públicas da primeira Presidenta do país que foi retirada do cargo por uma manobra política e jurídica, imposta pelo que compreendemos melhor atualmente, um movimento reacionário teocrático da burguesia nacional.
Pesquisa Quaest
A empresa que atua com pesquisas e consultoria divulgou, em 19/03/2025, dados em relação a aceitação do governo Lula entre 106 fundos de investimentos sediados em SP e RJ. Primeiro, seria incompreensível Lula ter perdido nestes 2 Estados e ter agentes financeiros aprovando seu Governo. Segundo, não há espaço para que fundos de investimentos possam apoiar o governo Lula, tendo em vista políticas regulatórias encaminhadas e aprovadas pelo congresso Nacional que afetam a taxa de lucro dessas estruturas usurpadoras do orçamento público. Apenas, com a regulação da Petrobras que deixou de distribuir vastos lucros bilionários, passando a direcionar parte do lucro a novos investimentos, mudança que gera empregos, distribui renda e melhora a qualidade de vida do povo. Claro que esse mercado financeiro seria contra Lula.
Os dados demonstram que 88% dos entrevistados avaliam negativamente o governo Lula. Esse para parcela da gestão do presidente não é um dado ruim. Não adiantaria, ocorrer no Brasil, como na Argentina, lá pelos Hermanos, 72% do mercado financeiro apoia o governo Milei, no entanto, 64% da população encontra-se abaixo da linha da pobreza e 36% abaixo da linha da extrema pobreza. Por aqui, diminuímos a extrema pobreza e a pobreza, com a retomada de programas sociais, mas principalmente com a geração de trabalho e a distribuição de renda. Por isso, é bom ver que os especuladores financeiros, que, em 2024, levaram R$940 bilhões de nosso orçamento público, não aprovam o governo.
Para eles os dois principais pontos que contribuem para queda da popularidade do Presidente Lula é a alta dos preços e erros na condução da política econômica. Quanto a primeira percepção é estupefaciente, pois pessoas que recebem mais de R$1 milhão de proventos por mês – que começaram a pagar imposto sobre a renda a partir de 2026, caso a reforma do imposto de renda seja aprovada no congresso nacional nesse ano – pode possuir todas as preocupações do mundo, menos em relação ao preço do café no supermercado. Isso demonstra que os dados possuem um papel político, especialmente após o fracasso da manifestação de Bolsonaro em 16/03 e o governador de SP, Tarcísio de Freitas, ter sido apresentado como candidato do reacionarismo liberal à Presidência da República, basta ver as indumentárias, Bolsonaro com a camisa principal da seleção brasileira e Tracísio com a segunda camisa.
Quanto a segunda percepção percebo uma lógica maior do mercado de investimentos. Na realidade as medidas do Ministério da Fazenda e do Banco Central, no âmbito da microeconomia, enfrenta uma cesta de privilégios concedidas pelo Estado a este segmento do setor financeiro. Por exemplo, a participação na distribuição de lucros é isenta da incidência de imposto de renda, desde 1997. Com a recente medida, de reforma do IR, esses privilegiados irão ter que pagar 27,5% até R$600 mil de renda, repousando ainda uma contribuição extra – essa que garantirá as reduções das atuais alíquotas praticadas a quem ganha até R$7 mil, sendo que quem ganha até R$5 mil ficará isento de pagar IR – necessária a renúncia da cobrança aos mais pobres que representam 10 milhões de contribuintes. Essa variação extra será de 2,5% a 10% a mais sobre os valores recolhidos pelos mais ricos. Essa medida, na prática, consiste em uma democratização da renda, podendo trazer resultados importantes para nossa sociedade, especialmente quando somarmos essa isenção sobre a renda e a já aprovada sobre a cesta básica. Esse conjunto de mudanças é o mais propício à classe trabalhadora desde a aprovação da CLT.
Manifestações Reacionárias
No último dia 16/03/2025, vimos em algumas localidades do Brasil representantes da extrema-direita realizarem manifestações de cunho reacionário, mas principalmente em defesa do golpe de estado, como ferramenta política no âmbito da manutenção de interesses da burguesia. Não ei de falar sobre a manifestação em Copacabana, apesar de merecer considerações sobre a posição golpista do governador de São Paulo. Ei de falar sobre a manifestação aos pés do monumento ao garimpeiro em Boa Vista. A ação capitaneada pelo União Brasil, partido que possui 2 ministérios e outras indicações em estatais e bancos públicos foi um fiasco completo. Puxada, pelo presidente da agremiação estadual, o Deputado Federal Nicoletti, o evento consistiu apenas para aprofundar o discurso anti-indígena e favorável ao garimpo, além de consolidar o isolamento do parlamentar que já foi base de Denarium, após chamá-lo de ladrão, agora é base de Jucá, depois de chamá-lo de ladrão. Acredito que existe um problema muito sério na carreira política desse parlamentar. O evento contou com algumas dezenas de pessoas, demonstrando que as grandes manifestações de 2021 e 2022, realizadas em Boa Vista, eram possíveis pelo envolvimento direto do Governador Cassado Denarium e de vários deputados estaduais e prefeitos municipais que determinavam a participação de seus apoiadores. Portanto, a influência do Bolsonaro parece decaí, em Roraima, apesar das pesquisas apontarem outra coisa, mesmo após a aliança entre Bolsonaro e Jucá para administra nossa Boa Vista Linda de se Ver.
Lionella Edwards
Ontem, o teatro escola de nossa casa de eventos municipal, recebeu uma das mais potentes vozes do atual cenário musical de Boa Vista. Além de uma cantora extraordinária, Lionella é uma ativista da voz da periferia. Uma preta, imigrante que propõe com ousadia, beleza e potência uma leitura sobre uma realidade de opressão, mas também de amor e resistência de um povo. As ondas sonoras de seus agudos e graves fizeram ampliar o sopro de nossa Cruviana, levando aos 4 cantos de nossa cidade o grito de resistência da mama África. A presença de palco e o figurino da Capivanarte de todos os músicos encheram nossos olhos. Os arranjos estavam impecáveis, a música “O Canto” que consiste no nome do show foi trazida com versões distintas que demonstram a capacidade de produção desses jovens que no tablado, nos possibilitaram ouvir mágicas ondas sonoras. Isso, demonstra que se as estruturas governamentais resolverem transformar Roraima em um grande centro de produção cultural teríamos vasta área de geração e empregos. Mas, esperar isso de Ogros do agronegócio que veem no desmatamento e na aniquilação dos indígenas passos sociais de um Estado é Utopia. Mas, esse movimento aumenta e em breve o poder político sairá das mãos dessa elite liberal. Nesse momento o sopro da Cruviana ressoará o grito de resistência ecoado, ontem, no Teatro municipal que em minha opinião deveria ser nomeado de Jaider Esbell.
A Fuga
Covardes. Assim, podemos designar o clã Bolsonaro. Sempre largam os seus pelo caminho, além de fugirem de disputas concretas, onde eles não possuem a hegemonia da retórica. Assim, vemos o Eduardo Bolsonaro, um parlamentar sem outros ganhos declarados, abandonar seu mandato, para ir morar em uma mansão no Texas, Estado que reúne o grosso da extrema-direita estadunidense e mundial. Conforme, a fala de ex-parlamentar, saia do Brasil por ser perseguido. Qual perseguição Eduardo? Tu não és investigado. Não responde processo. Não tens redes sociais suspensas. Enfim, qual a perseguição que tomas como referência? Nenhuma. Apenas uma especulação para que continues sem cometer crime de Lesa-pátria a tramar intervenções do governo estadunidense contra a nação brasileira. Esses atos deixam claro, a maioria de nosso povo, que a estupidez retórica do patriotismo é algo estruturante do falso discurso de vocês nas redes sociais. Lembre-se que estás apenas afastado do exercício do mandato nos próximos 120 dias, portanto, ainda estás sujeito a responder por traição ao nosso querido país.
Bom dia, com alegria.
Fábio Almeida
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