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Coluna Tucandeira – 23/01/2025

Foto do escritor: Fabio AlmeidaFabio Almeida

A posse de Trump como presidente dos EUA trouxe uma aliança entre dois modos de produção capitalista que até o momento viviam as birras um com o outro. O primeiro deles consiste na estrutura produtiva que gira em torno do petróleo, o segundo estabelece-se com a revolução tecnológica da comunicação, estes, no entanto com mais força, como vimos no staff da cerimônia de posse na sede do congresso estadunidense.


Essa aliança trilionária entre esses setores produtivos e o mercado financeiro possibilita uma noção de ausência de contrapesos, permitindo a essas pessoas se acharem no direito de agirem de forma autoritária, a ponto de vermos, na data de ontem, relatos de ameaças feitas pelo Elon Musk contra senadores americanos que votem contra os indicados do presidente Laranja. As redes sociais e seus algoritmos já demonstraram a possibilidade de forjar determinada coesão social. Porém, é possível que elas determinem cada vez mais o que faz ou não o Estado e seus agentes?


Sem regulação e sob o primado da liberdade de expressão, as bolhas remuneradas – sob a égide de pirâmides financeiras – possibilitarão a cada dia a falsa percepção da voz da sociedade. Mesmo que apenas 1 milhão de pessoas afirme aprovar o fim de qualquer identificação de gênero que ultrapasse o conceito cristão de homem e mulher, proposta por Trump, as multiplicações nas redes, os algoritmos e a indução da aliança política entre as Big Tech e o governo reacionário dos Republicanos parece multiplicar essa rede de apoiadores.


Sociologicamente o ser humano prefere aderir a uma movimentação social a resistir e contrapor. Essa naturalidade baseia-se no instinto da sobrevivência. Assim vemos os donos do Goolgle e do X, descendentes de imigrantes potencializarem o discurso de que os imigrantes são criminosos e deviam ser expulsos do território estadunidense. Simplificadamente essa é uma demonstração clara de adesismo que vivemos nos tempos dos avanços da tecnologia da informação e da retomada das pautas reacionárias, de cunho xenofóbicas, machistas e racistas.


A conta, no entanto, não é barata. O apoio das grandes Big Tech à eleição de Trump foi fundamental, a contrapartida do novo governo consiste na indicação de representantes do campo empresarial para assumir funções públicas e o anunciou no segundo dia de governo que será feito um investimento de US$500 bilhões, muito dinheiro que saíra dos programas sociais – coisa de comunista para essa gente – para financiar um processo maior de alienação das pessoas por todo o mundo, ao potencializar o desenvolvimento da inteligência artificial.


Duas questões centrais no discurso do novo administrador chamaram minha atenção e prometem, por meio das Big Tech, serem catalisadoras de apoio a extremistas reacionários da direita liberal. A primeira delas consiste na redução do debate de gênero a uma visão cristã de que existem apenas homens e mulheres, não sendo admissível outra forma de designação das pessoas. Essa medida promoverá um recrudescimento das violências psicológicas e físicas contras pessoas da comunidade LGBTQUIA+, especialmente contra as pessoas transsexuais.


Essa visão reacionária e cristã de organização do espaço social já foi vivida por nós, especialmente durante o que se determina no ocidente de idade antiga e média. Na modernidade, apesar das concepções racionais surgirem com força, a lógica opressora do cristianismo ainda impôs muita dor a pessoas e às famílias que projetavam uma vida distinta da lógica masculina e feminina dominante nos círculos sociais. Da mesma forma, as mulheres também enfrentavam atribulações sociais que estabeleciam seu papel como de apoio aos desejos masculinos.


Começam com a lógica de segregação social de pessoas da comunidade LGBTQIA+, posteriormente ampliam esse reacionarismo de negação ou restrição social das atividades a outros grupos populacionais como negros, indígenas e mulheres. Não demorou muito para um dos principais aliados de Trump, o Zuckerberg – dono do Facebook, Instagram e WhatsApp – na cara de pau afirmar que a Europa precisa de mais testosterona administrando a região.


Esses serão tempos difíceis, onde enfrentaremos não apenas um partido, mas estruturas de comunicação que possuem acesso direto as nossas crianças e adolescentes, onde promoverão essa visão horrenda de organização social, onde o outro que não reproduz a brutalidade masculina deve ser deixado no caminho, pois sua existência é pecaminosa. Assim, sob a lógica da pós-modernidade retomamos o pensamento central da idade média, no ocidente, Deus e as forma de interpretação de seus dogmas passarão a dominar os caminhos políticos. Os resultados naquela época foram desastrosos, agora o caminho será o mesmo.


Outra intervenção de Trump muito preocupante foi a afirmação, aplaudida com entusiasmo pela maioria dos presentes ao evento de empossamento no Capitólio, de que em seu novo mandato os EUA ampliarão suas fronteiras. Na prática, desde a campanha eleitoral 3 países são diretamente achincalhados como nação pelo Republicanismo de Trump: Panamá, Canadá e Dinamarca. Recentemente o golfo do México passou a ser alvo do presidente estadunidense. Na prática a retomada da política expansionista de fronteiras nos leva ao período anterior a 1ª guerra mundial, que Eric Hosbsbawm definiu como Era do Imperialismo, neste período da história mundial a centralidade foi a guerra. A morte passou a ser o centro efusivo do processo de dominação territorial nos 50 anos que antecederam o conflito europeu.


Enfim, entre todas as aberrações profanadas pelo Trump durante sua posse, na prática esses 2 pontos me deixam preocupados, pois ambos representam um retrocesso não apenas político, mas social na forma de organização das nações. Desta forma, os países que se alinharem rumo ao multilateralismo deverão sair mais fortalecidos desse processo histórico, pois a lógica de enfrentamento interno e externo não será potencializada de forma efetiva. Portanto, a sociedade precisa a cada dia apontar sua varinha de condão para permitir vozes aos defensores do pluralismo e da democracia. Isso, inclui as organizações revolucionárias. Essa quadra histórica exige cada vez mais um redimensionamento da estratégia, caso contrário podemos ceder governos ao programa reacionário capitaneado pelas Big Tech e seu porta voz Donald Trump.   

 

Eleições alemã

No próximo dia 23/02/2025 teremos eleições na principal economia europeia que se esvai em uma crise política e econômica desde o início da guerra entre Ucrânia e Rússia. As perspectivas políticas apontam um crescimento e uma possibilidade de vitória da Alternativa para Alemanha (AfD), um partido que possui laços concretos com estruturas neonazistas, algumas com atuação clara dentro da organização partidária. Neste afã, da chegada de Trump ao centro do poder e sua aliança com os principais provedores e disseminadores de conteúdo, a AfD foi uma das organizações políticas convidadas para participar da festa. Em um dos eventos, promovidos pelo articulador de extrema direita Steve Bannon, o partido neonazista, após uma saudação que lembrava o gesto de saudação ao Führer, ouviu que teria todo o apoio da extrema direita mundial para ganharem as eleições. Na prática essas eleições serão o teste político dessa nova aliança entre a extrema-direita que chega ao poder nos EUA e as Big Tech A ascensão dessa frente reacionária potencializará mudanças políticas na Europa que impactará todas as nações.

 

Eleições 2026

Muitos já se apresentam como pré-candidatos ao governo de Roraima, ao senado e as disputas proporcionais. Nesse jogo político, apenas a esquerda e o progressismo que mantém sua estratégia secretamente, mas em julho de 2026 saberemos qual será, no entanto, o resultado já conhecemos. Não trago esse tema para avaliar as candidaturas, mas sim, para falar dos balões de ensaio soltos e potencializados por blogs jornalísticos, em um claro movimento do que se denomina Jabá no meio jornalístico. Uma recente publicação coloca como candidata a vice-governadora, na chapa de Edson Damião (Republicano), a atual titular da pasta do SETRABES, Tânia Souza, irmã da esposa do Governador e conselheira de Contas. Os principais esquemas de corrupção eleitoral que podem levar a cassação de Deanrium foram estruturados por meio da pasta de Tânia. Seu filho, o inexpressivo Lucas Souza, conseguiu duas belas votações à Ca$a Legi$lativa estadual, pelo PL. Quanto mais chegarmos próximo do pleito eleitoral veremos mais balões serem lançados para avaliar o nível de unidade que se estabelecerá em torno de Denarium e seu projeto eleitoral de manter a turma do achaque no poder político em Roraima. Mantido esse movimento veremos em breve novos gritos ecoarem do meio dos Deputados Estaduais e da bancada federal, especialmente o senador chorão que almeja ver sua barbie em um cargo político, além o de secretária de estado.

 

Crise de Segurança

A surpresa da imprensa roraimense com a descoberta de um cemitério clandestino teve uma grande repercussão jornalística, em virtude de render curtidas nas redes sociais, até porque, mesmo morando em um dos Estados mais cristãos do país, as pessoas adoram ver cenas macabras, a exemplo de pessoas enterradas em sacos plásticos. Infelizmente, a imprensa não promoveu as análises corretas, as quais deviam enveredar por meio da crise de segurança que vivenciamos. A cada dia mais policiais são suspensos por envolvimento com o crime organizado, já o comandante da casa militar de Denarium é investigado por envolvimento com organizações criminosas. Toda essa situação relaciona-se com o crescimento das organizações como PCC, CV e grupos criminosos venezuelanos em nosso Estado, apesar disso, vemos uma segurança inerte, entorpecida em disputas internas capitaneadas pelos 4 titulares das pastas de segurança. Como é possível termos uma ação orquestrada em um sistema que possui tanta gente para mandar e pouco resultado prático ao povo. Os corpos encontrados demonstram a falência de nossa segurança pública. Se não promovermos qualidade de trabalho, veremos cada vez mais o crime tomar conta de nossas estruturas sociais e vários serão os cemitérios clandestinos. Estes ainda deixam vestígios e enterram, mas a maioria queima e apaga histórias que se perdem na ineficiência de nosso comando policial.

 

Queremos Protagonismo

A realização da COP30 em novembro, na cidade de Belém, promete ser um espaço amplo de debate e pactuação de medidas que tentem conter os impactos dos fenômenos climáticos potencializados pelo aquecimento global e o desmatamento. Dois dias atrás o governo federal indicou o embaixador André Lago para presidir o evento. A APIB, maior entidade representativa dos indígenas no território brasileiro, reivindica que seja concedido aos povos indígenas um protagonismo maior no processo de negociação do texto final do encontro, para isso, reivindicam, com razão, a designação de uma copresidência aos indígenas. Um manifesto denominado “A Resposta somos Nós” já cobrava uma ação do governo que potencializasse as vozes indígenas na condução do evento.

 

Viva o MST

Ontem, o maior movimento revolucionário organizado no Brasil completou 41 anos. Por que classifico o MST como revolucionário? Simplesmente em virtude de ele lutar contra o poder territorial da oligarquia agrária brasileira que controla o poder político neste país desde a criação do Império. O aniversário foi comemorado durante a reunião da direção nacional do movimento que é realizada em Belém, alinhando as estratégias para 2025 e a atuação dos sem-terra durante a realização da COP30. A disponibilização de mais terras para assentamentos de trabalhadores e trabalhadoras rurais é a principal pauta do MST, ante um governo inerte no tocante em garantir terra para quem com coragem enfrentou as balas do bolsonarismo sonhando com um pedaço de terra. O programa de reforma agrária caminha a passos lentos desde o golpe parlamentar de 2016, demonstrando a força política dos latifundiários na condução das ações do Estado brasileiro.

 

BRICS

Na manhã de ontem, Trump propalou um dos primeiros golpes que são direcionados ao Brasil. Segundo o presidente estadunidense, os países integrantes dos BRICS poderão ser taxados com uma tarifa de 100% a mais do que a praticada. Os países que compõem o bloco, presidido nesse ano pelo Brasil, manifestaram-se afirmando que a intenção do bloco não é o conflito econômico, mas o multilateralismo e o ganho mútuo das nações.


Segundo o presidente estadunidense sua medida fundamenta-se na busca de enfrentar o uso de moedas locais para comércio entre os países, isso uma realidade no BRICS, especialmente entre China e Rússia. O Banco Central do Brasil estuda uma forma para que o comércio sino-brasileiro passe a ser realizado em moedas nacionais. Esses avanços que enfrentam o acordo de Bretton Woods promovem medo na gestão estadunidense que comtrolam no comércio mundial.


O BRICS concentra 40% da população mundial e 31,5% do PIB mundial. Portanto, os interesses hegemônicos estadunidenses podem se voltar contra eles mesmos. A perda de mercado para os produtos dos EUA a partir da adoção de ações recíprocas de sobretaxamento impactará nas receitas e empregos por lá. Já nos BRICS podemos ter soluções engenhosas no desenvolvimento de cadeias produtivas integradas que melhorem a qualidade de vida dessa significativa parcela da população. O Brasil acerta em sua posição política e econômica, ao contrário do caminho que parece querer adotar a Argentina que ameaça inclusive deixar o Mercosul, para atender pedidos de Trump.


Bom dia, com alegria.

 

Fábio Almeida

 
 
 

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