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O que une Denarium e Miramilton?

  • Foto do escritor: Fabio Almeida
    Fabio Almeida
  • 30 de abr.
  • 4 min de leitura

As relações políticas entre governadores e comandantes da casa militar e da PM são umbilicais - já que um representa o poder político, outro o poder armado - sempre foram repletas de protecionismo. Socialmente os bastidores políticos relatam fatos, os quais, mesmo sem comprovação em sua maioria, justificavam a proteção singular desses coronéis da PM pelo mandatário do "palácio" Senador Hélio Campos. No entanto, na situação envolvendo Denarium e Miramilton, acredito que as relações vão muito além das suspeitas, especialmente quanto as investigações que colocam Miramilton envolvido nos assassinatos da fazenda 3A, no Cantá, além das acusações de venda ilegal de armas para organizações criminosas.


Parece-me que Denarium interpreta literalmente os escritos de Thomas Hobbes que afirmou “os homens só buscam companheiros por interesse ou necessidade”, acredito que para o governador não fique muito claro a existência de necessidades – essas podem ter surgido no decorrer do mandato. Claramente, na minha opinião, existem interesses, os quais não sou capaz de expor, pois consistem numa relação privada, com tanta complacência que levam o governador exonerar o Miramilton Goiano do cargo de Comandante da PM – cargo com status de Secretário de Estado – para nomeá-lo Chefe da Casa Militar de seu Governo.


Você acha prudente um suspeito de vender armas para organizações criminosas chefiar a segurança do Governador? Eu não acho. No entanto, essa sujeição do governador, já mencionada pelo Capitão Helton – um dos acusados de participação do assassinato de Flávia e Jânio, na região do Surrão – que em seu depoimento afirmou de que o governante, máximo de Roraima, teria recebido o irmão do fugitivo Caio Porto. Não só Denarium consta no depoimento de Helton, ali, também consta o nome de Miramilton que além de superior hierárquico do Capitão, foi seu chefe direto na Casa Militar, cargo que volta a assumir, depois de deixar o comando de nossa PM.


Esse constrangimento público do governador, ao manter ao seu lado, uma pessoa investigada por venda de armas, para Hobbes, só pode se efetivar por meio do medo ou da Lei. Como não há Lei que defina no espaço público de gestão a obrigação de nomeação do investigado Miramilton, presume-se que a nomeação se deu por medo de Denarium. Temos um governador medroso?


Acredito que sim. As recentes indicações de um aliado ao Deputado Estadual Jorge Everton (União Brasil) para o primeiro escalão do governo - após o parlamentar ter numa rádio local afirmado a existência de provas da relação do governador com grilagem de terras, mostrando inclusive documentos, - demonstra que Denarium não consegue receber pressão e cede aos seus constrangedores. Quais os constrangimentos que fazem Denarium manter Miramilton Goiano em seu primeiro escalão?


Esse estado da natureza que determina os atos de Denarium, em minha singela opinião, não podem ser compelidos pelo contrato social vigente, nas terras de Makunai’mî, pois sua imposição é determinada, por aquele que até ontem, mesmo investigado conduzia o braço armado do Estado. Parece uma distopia. Mas, consiste na realidade objetiva de um Estado que se esfacela entre interesses privados e desmandos públicos que permitem convivermos com o caos, por exemplo na saúde pública.


Ao vermos a conjuntura política permitir a um investigado por envolvimento em 2 crimes hediondos exercer um poder de mando sobre o braço armado do estado, nos deparamos com a perpetuação sociológica de atos inerentes a formação social brasileira, onde o crime e a política se estabelecem, por meio do Estado, na consolidação de uma cidadania disjuntiva, onde princípios previstos na Constituição, são denegados por interesses privados, os quais se confrontam com o código penal.


Denarium, não fosse ungido pelo medo dos atos de Miramilton Goiano, deveria em nome do republicanismo determinar, não agora, lá atrás, o afastamento do Coronel para que respondesse pelos seus feitos e provasse sua inocência nos processos. Porém, tomar esse ato político de respeito ao povo, ao distanciar do Palácio do Governo e da PM, um investigado por crimes hediondos, levaria ao ex-comandante da PM e agora, vizinho de sala do governador de Roraima, perder o direito ao foro privilegiado, figura administrativa que protege, muitas vezes, criminosos nesse país. Não aqueles que encontramos pelas ruas, mas os que usam colarinho branco e se encontram nas principais estruturas de poder do Estado.


O contrato social, para Hobbes, consiste em um pacto de sujeição ao Estado, a ser seguido por todos, onde a proteção à vida é o princípio basilar, nessa forja filosófica esconde-se o caráter de classe, mas é fundamental para que as referências, especialmente do Governador, possam ser exemplo a ser seguido. Qual Estado construímos com um governador que mantém em seu “castelo” um aliado que é investigado por quebrar esse contrato? Não podemos nesse caso específico, externar respeito, solidariedade ou compreensão. O asco pela forma vil que conduz seu governo é a única expressão a ser externada, por cada roraimense, ao governador cassado Denarium.


Não há cargos públicos. Não há verriondez oportunizadas pelo poder. Não há sonhos. Enfim, não há desejo algum que permita aos parlamentares de Roraima manter esse governador no cargo. O escárnio tornou-se a forma de gerir o Estado de Roraima, por parte de Denarium, manter um suspeito de envolvimento em crimes hediondos com função de mando e destaque na estrutura de governo é esculachar com todo povo, especialmente com nossa polícia civil e federal que recebem abertamente a ordem de não conduzirem suas investigações por caminhos que imputem a culpabilidade ao amigo do Governador.


Uma coisa ninguém pode falar mal de Denarium, ele desde o início do seu governo demonstrou que os seus ele sempre protegeu, inclusive aqueles que lhe chegaram por mãos de outros, a exemplo de Cecília e Miramilton, figuras que transformaram o Estado de Roraima, comprovado os crimes investigados, em um arraial de horrores. Não podemos esperar o trânsito em julgado, precisamos impedir Denarium de continuar protegendo investigados com cargos no primeiro escalão do governo, a bem de não vermos as páginas frágeis  de nosso contrato social rasgado, passando o crime a determinar caminhos administrativos em Roraima.

 

Por Fábio Almeida      

 
 
 

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