11/06/2024
- Fabio Almeida
- 11 de jun. de 2024
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Um cigarro na mão e uma voz potente na defesa de um outro modelo de desenvolvimento, onde o ser humano seja parte inicial e final das ações econômicas idealizadas pelo Estado Nação. Com essa pujança que perdemos no último sábado, 08/06/2024, aos 94 anos, Maria Conceição Tavares. Uma portuguesa que fugiu da ditadura salazarista e combateve, nas terras de Pindorama, a ditadura empresarial/militar.
Formada em matemática e economia promoveu grandes debates e uma extensa produção acadêmica sobre o modelo de Estado e do desenvolvimento que necessitamos para o mundo, especialmente para o Brasil, país que se tornou cidadã, ainda nos idos da década de 1950. Uma de suas frases mais célebres, em contraponto aos liberais, é que “O Povo não come PIB”. Integrante da CEPAL contribuiu diretamente no combate ao projeto liberal no Brasil.
A economista revoltava-se com a retórica liberal de que era preciso fazer crescer a produção de riqueza para depois distribuir. Chamava qualquer um que defendesse essa tese de canalha, sem fingimentos, na lata do inescrupuloso que destina seus conhecimentos técnicos para ampliar a pobreza, por meio da concentração de renda e riqueza. Um de seus principais influenciadores, no processo de formação, foi o economista Ignácio Rangel, um dos grandes teóricos mundiais sobre o conceito inflacionário, expondo quem perde e quem ganha com a inflação. Na realidade o povo sempre perde.
Em parceria com Celso Furtado, Ignácio Rangel, Hélio Jaguaribe, Cândido Mendes, Sérgio Buarque de Holanda criou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) na década de 1950. A organização constituía-se em um espaço de estudo, produção de documentos e enfrentamento a onda conservadora e liberal que crescia no país, promovendo ainda mais a exclusão de nosso povo de condições dignas de sobrevivência. A organização seria dissolvida após o golpe militar, no entanto, foi fundamental no debate político que culminou em duas grandes conquistas ao povo brasileiro, a CLT e a Petrobras. A produção industrial e o desenvolvimento nacional eram temas centrais para os avanços da materialidade da vida da classe trabalhadora defendia Maria Conceição Tavares.
Após a assunção do programa neoliberal de globalização econômica, instrumento orquestrado como uma nova ferramenta de colonização das nações, pelos países ricos, Tavares assumiu um papel central no combate a financeirização do processo de acúmulo de capital pela burguesia, estrutura forjada a base da morte de pessoas nos países mais pobres. Veja que o Brasil destinará no orçamento de 2024 cerca de 48% do orçamento para pagamento de juros e rolagem da dívida, enquanto o orçamento de nossa educação, no âmbito federal, não chega a 3,5% do PIB. O combate a esses processos que ampliam a concentração de renda nas mãos dos burgos era uma prática corriqueira de nossa economista.
As principais dissertações versaram sobre o subdesenvolvimento, apontando suas causas e consequências na vida prática do povo, pois em sua heterodoxia econômica sempre existiam as pessoas, por isso, era conhecida internacionalmente por seu pensamento baseado na economia política, ou seja, os processos econômicos estavam diretamente interligados a luta política, especialmente a luta de classes que fundamenta quem ganha e quem perde no bolo que só cresce, possibilitando uma maior concentração de renda e riqueza sob a lógica liberal.
A relação entre a periferia do capitalismo (nós aqui de Pindorama, produtores de matéria-prima) e os esquemas hegemônicos das nações desenvolvidas constituíram bases de seus estudos. Projetando como o capital financeiro determina o processo organizativo das nações fomentadoras de insumos, delimitando o processo de acirramento das desigualdades. Ou seja, sua produção intelectual partia da capacidade de ver as coisas, ver o povo, enxergar o sofrimento das pessoas, essas ferramentas históricas permitiram aprofundamentos importantes em sua teoria sobre o subdesenvolvimento, ao analisar a usurpação imposta do conceito de nação pelos estadunidenses e suas ferramentas multilaterais que controlam o comércio, o mercado, a produção e as finanças.
Para Tavares, o capitalismo é um sistema autodestrutivo, em virtude de sua impossibilidade de autorregulação, o lucro impõe um processo arbitrário que destrói vidas e coisas. Tendo portanto, o Estado que impor os devidos limites a esse processo, definindo parâmetros que permitam determinado nível de civilidade. No entanto, a grande maioria das pessoas continuaram a produzir riqueza para ampliar sua pobreza. Ela afirmava que o capitalismo é instável e possui uma natureza incerta, levando a crises sucessivas que realimentam o processo de concentração da riqueza e penalização das pessoas. Por isso, afirmava ser impossível apontar ser viável um sistema capitalista equilibrado.
Sua produção, em “Um contraponto à autorregulação da produção capitalista”, promove um debate teórico sobre a formação do valor, tema importante para compreensão do desenvolvimento do capitalismo quase 100 anos após os escritos de Karl Marx, um dos principais teóricos sobre o Valor. Tavares, aponta um distanciamento com o conceito de Marx, propondo que o desenvolvimento capitalista, contraditoriamente a sua origem pautada no trabalho, caminha para reduzir cada vez mais o número de horas de trabalho para produzir algo. Neste contexto, o antagonismo do capitalista em relação ao trabalhador, amplia a contradição do sistema, ao se afastar da determinação conceitual de valor-trabalho, ou seja, essa premissa demonstra a efetivação do processo da lei de valorização que reconfigura a compreensão da formação do lucro, o qual deixa de ser exclusivamente extraído da mais-valia ou do trabalho excedente.
Em sua formulação o lucro requer valorização monetária dos componentes do capital utilizados na produção (força de trabalho e meios de produção). Impondo três movimentos: a) apropriação do trabalho abstrato pelo capital (determinação da mais-valia); b) sua transformação em preços da produção (determinação da taxa média de lucro); c) transformação da mercadoria em dinheiro (taxa efetiva de lucro). Este caminho aponta ganhos monetários concretos, sobre o próprio trabalhador que é roubado no mínimo duas vezes pelo burguês.
Por último, saliento sua contribuição teórica sobre os debates sobre a contradição da valorização financeira e a produtiva. A primeira gera uma ampliação de capital fictício, forjado em títulos e letras cambiáveis, o segundo modelo de valorização consiste na essência manufatureira do capitalismo. Essa realidade amplia o processo de crise do sistema capitalista, ou seja, apesar da influência de fatores exógenos (recursos naturais e força de trabalho) no surgimento de crises econômicas, sua estruturalidade é formatada em processos endógenos do próprio sistema e suas bases de ampliação do lucro. Se a mercadoria é a essência do capitalismo, o rebaixamento da renda implica diretamente no fim da acumulação e portanto na estruturação de um processo anárquico , ampliando a rentabilidade com a entrada de recursos públicos em socorro as empresas w bancos nas crises geradas, ampliando a lógica de concentração de renda e riqueza.
Perdemos uma grande mulher de seu tempo, com ampla capacidade de fundamentar um modelo de desenvolvimento que deve obrigatoriamente levar em conta a vida, o bem viver e as relações pessoais em seu processo de relação econômica. Suas contribuições são e serão fundamentais na superação desse sistema produtivo exportador de sangue e dor aos trabalhadores e trabalhadoras do mundo.
Eleições Europeias
Várias são as leituras que podem ser extraídas das eleições para o parlamento europeu encerradas no último domingo. Uma delas é a derrocada da social-democracia que perdeu cerca de 25 cadeiras e dos verdes, outra é o crescimento da direita liberal, da esquerda revolucionária e da extrema direita. Na realidade o poder político continuará sob o comando da direita liberal em aliança com a social-democracia e os verdes que constituíram uma maioria significativa, não sendo necessário negociações com a extrema-direita para aprovação de propostas no parlamento europeu. A desregulamentação de direitos será ampliada, apesar da esquerda revolucionária ter ampliado significativamente seus votos, especialmente pelo crescimento nos países escandinavos.
Poderemos observar um crescimento de atos reguladores de viés xenofóbicos com intuito de remoção de imigrantes africanos, latinos-americano e mulcumanos. Essa realidade é uma cobrança de uma parcela cada vez maior de europeus, por isso vemos na França governada por um liberal e na Alemanha por um social democrata um crescimento significativo da extrema-direita. Essa capilaridade do discurso xenofóbico poderá ganhar adeptos na direita liberal e na social democracia a fim de manterem suas posições efetivas nos processos de mando e comando.
Porém, em minha opinião tivemos sinais geopolíticos muito preocupantes, a partir da vitória e do crescimento da extrema direita em 2 países que possuem arsenal atômico. Em processos de tensionamentos, iguais aos que vivemos atualmente, é muito perigoso termos extremistas com a possibilidade de lançar artefatos nucleares pelo espaço. Até o momento, desde a segunda guerra a resiliência foi capaz de conter esse risco, no entanto, em um contexto multipolar, com os organismos internacionais sem credibilidade e a decadência hegemônica dos EUA é receoso que idolatras do narcisismo do "Eu Imperador" cheguem ao poder político em nações com armas nucleares.
No mais teremos um acirramento político com a China e um suporte maior ao genocídio conduzido pelo governo sionista de Israel contra a Faixa de Gaza. Quanto à guerra da Ucrânia o crescimento da extrema direita poderá contribuir com a criação de uma mesa de negociação, a fim de evitar-se o tensionamento do conflito em suas fronteiras. Seguindo um caminho contrário ao cobrado pelo governo estadunidense. Já em relação ao Brasil teremos um certo nível de tensionamento que pode levar a crises pontuais, especialmente em virtude do aumento da visão protecinista da economia defendida pela extrema direita, outro ponto a ser considerado é o internacionalismo do movimento extremista e sua vinculação a extrema direita brasileira, capitaneada pelo genocida que presidiu o país até 2022.
Nicoletti
O medíocre deputado federal no período de 5 anos foi da denominação do governador Denarium era corrupto, a ele é o melhor administrador de Roraima A destinação de cargos de primeiro e segundo escalão não interferiram segundo o demagogo parlamentar. Claro que não Deputado! Vossa “excelência” - poderia usar outra designação, mas seria repugnante com restos fecais - apoia Denarium pela sua capacidade administrativa de mentir ao povo, ou estou errado? Denarium prometeu pontes em concreto e os moradores das nossas vicinais - exceto as dos amigos da soja - continuam a cortar madeira para fazer pinguelas. Lembro que foi prometido fardamento gratuito aos discentes das famigeradas escolas militarizadas. Nada, o povo continua a pagar em média 600 paus pelo fardamento para ver seu filho ou filha ser humilhado por policiais armados. Caro deputado, quais são tuas ideias para Boa Vista? Agora, observe seu estatuto partidário que defende o estado mínimo por meio da privatização de serviços essenciais. Não adianta dizer que discorda, pois assinasse uma ficha de filiação no partido que é herdeiro da ditadura militar, acredito ser por isso que tenta vincular seu nome ao genocida do Bolsonaro. Terás uma das maiores derrotas de sua vida. Espero que esse seja o primeiro passo de seu retorno à proteção de nossas rodovias federais. Ou a exemplo de outros servidores públicos que exercem mandatos não queres mais trabalhar?
Desdolarização
Avança o processo de debate internacional sobre o fim da dolarização nas relações comerciais e transações financeiras. A reformulação do acordo de Bretton Woods que estabeleceu o dólar como moeda referência em 1944, criando um novo sistema monetário internacional e as mudanças em 1971 que qualificou a moeda como fiduciária, sendo uma unidade monetária de reserva, consiste em uma grande revolução na geopolítica mundial, pois retira poderes hegemônicos dos EUA, declaradamente usados por meios de embargos comerciais que limitam relações econômicas com países considerados inimigos. A República Bolivariana da Venezuela é uma das nações afetadas por esse modelo. Um dos principais defensores da proposta de criação de uma nova unidade monetária que fundamente as relações comerciais é o russo Sergei Glazyev. Segundo ele, no último sábado foi apresentada à Presidenta do NBD, Dilma Rousseff, o formato da proposta que pode ser adotada pelo BRICS + 10. A superação da dolarização é fundamental sendo um passo fundamental para um mundo multipolar, onde as moedas nacionais, as commodities e o ouro constituirão um lastro de segurança na nova unidade fiduciária. A proposta final deve ser apresentada na cúpula anual do BRICS a ser realizada em outubro, em Kazan, na Rússia. No entanto, o Brasil necessita constituir uma nova autoridade monetária que esteja desvinculada dos interesses estadunidenses no comércio internacional para que tenhamos autonomia de debater com profundidade esse tema, já avalizado pelo Presidente Lula.
Pesquisa eleitoral
Recente pesquisa divulgada pelo instituto Inope, em RR, apresenta dados sobre a avaliação do presidente da República. Segundo os dados, 52% da população avalia o governo como péssimo ou ruim. Considerando so votos do primeiro turno das eleições de 2022 pode-se afirmar que a avaliação de Lula melhorou em Roraima. Na pesquisa, quanto maior o nível de escolaridade maior a rejeição ao PT, nesse grupo o percentual de reprovação chega a 62,5%.
Os dados permitem a partidos do que se denomina progressismo um olhar qualificado sobre sua participação eleitoral em 2024. Nos municípios de Cantá, Baliza, Caracaraí, Bomfim, Amajarí, Pacaraima, Normandia e Uiramutã a aprovação do governo varia entre 25% e 30% da população, demonstrando viabilidades eleitorais na apresentação de chapas majoritárias e na eleição de vereadores. Preocupante é a aprovação do governo na capital que se encontra em 18%, mesmo percentual de votos alcançados em 2022, no primeiro turno.
Essa realidade torna difícil a conquista de mandatos eletivos na capital, os qusis são essenciais à consolidação de contrapontos políticos sobre a organização do Estado. Isso é fruto da ineficiência dos partidos políticos da base de sustentação que não conseguem se distinguir da direita liberal e da extrema direita roraimense, bem como do governo federal que não potencializa seus quadros políticos no processo de relacionamento com a sociedade e na condução de políticas públicas, programas e projetos. Se computados os cidadãos e cidadãs que consideram o governo regular teria Lula uma determinada proximidade com cerca de 41% dos roraimenses. Um dado surpreendente após o ex-presidente de extrema direita Bolsonaro ter alcançado 72% dos votos válidos no segundo turno. Apesar da imprensa pró direita ter focado na rejeição, a aprovação do governo teve um excelente crescimento, mesmo enfrentando o garimpo no Estado. Existe espaço de melhora, para isso é fundamental melhorar na política e deixar de organizar palanques para políticos de extrema direita em Boa Vista.
Bom dia, com alegria.
Fábio Almeida
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