Desculpem a ausência. Não consegui publicar as colunas da última quarta e sexta-feira. Isso deu-se em virtude de interposições que a vida nos impõe, no caso específico o lugar de cuidado obrigou-me a tomar decisões rápidas, a fim de manter a alegria de viver. O condão central de nossas existências sustentam-se na percepção do outro, principalmente quando estes pedem socorro. A vida de um bom comunista consiste em atender ao chamado, já que a coletividade é parte essencial de nossa prática.
Os dias e as incertezas trazem às vezes situações que dilaceram as premissas formuladas em nossas sinapses, as quais criam desconexões que exigem que tenhamos a motivação para estender a mão, entregar um abraço e destinar a atenção que o outro necessita. Desta forma, processos como os que mantenho aqui com vocês sofrem impactos de descontinuidade, mas nada que não possamos transformar ou retomar, assim que as condições adversas comecem a se normalizar e a vida reinicie, mesmo de forma fragilizada sua continuidade.
Neste contexto é fundamental retomar nossos olhares conjunturais sobre as idas e vindas do governo central do país. A gestão de Lula em sua sanha em torno de uma maioria política e da epígrafe democrática trilha um caminho de falsos pilares sustentadores do alicerce central à retomada de um programa includente da classe trabalhadora, como expresso na campanha eleitoral, mesmo sob os auspícios deste nefasto sistema produtivo que impõe exclusão e sofrimento às pessoas.
Apesar de não concordar com o arco de aliança eleitoral estabelecido nas eleições de 2022, compreendi sua consecução exclusivamente por entender a necessidade de derrotar o projeto autocrático de viés protofascista idealizado pelos círculos militares e civis de sustentação do ex-presidente Bolsonaro. Ver figuras deletérias da classe trabalhadora no centro de um governo social-democrata demonstrava o duro período que teríamos pela frente, mesmo com a derrocada neoliberal - apósa crise de 2008 - da qual por exemplo pulou Alckmin, mantendo-se princípios liberais que nortearão os 4 anos de mandatos.
No entanto, a cada dia o governo na ampliação de suas alianças com mandatários do congresso nacional - para construir uma maioria tênue que se limita a colocar em prática pacotes econômicos de viés liberal - aceita no governo representantes da cota bolsonarista. Isso é um erro histórico cometido pelo partido dos trabalhadores e todos aqueles que se denominam sociais democratas, socialistas ou comunistas. Não há espaço de diálogo com políticos ou seus indicados que 11 meses e 14 dias atrás flertavam com o golpismo e políticas de agressões aos trabalhadores em seus direitos individuais ou coletivos.
A extrema direita de viés protofascista é hoje um movimento internacional com grande força especialmente entre os jovens e a classe média, pois a socialdemocracia e sua conciliação de classe com viés liberal projetada pela burguesia impôs o abandono da nossa juventude. Vivemos isso na América Latina cada vez mais com o crescimento de frentes protofascistas, a exemplo da candidatura de Miley na Argentina que possui como uma das propostas centrais o fim da saúde e da educação pública. A retórica é que os mais pobres receberão vouchers para matricular os rebentos em idade escolar. Como assim, se uma das propostas do pseudo anarquista é cortar os programas sociais daquele país?
As manifestações recentes na Espanha, contra a formação de um novo governo pelo partido socialista, onde os gritos de viva Franco - acusado de matar cerca de 400 mil espanhóis em 37 anos de governo - demonstram que não há amadorismo nesta disputa política. Temos em tela dois mundos que se confrontam, ambos projetos burgueses, de um lado temos a burguesia com sua democracia eleitoral, entronizada como ferramenta plural no ocidente, de outro lado, promessas autocráticas, a exemplo das experiências na Rússia e Hungria.
Neste contexto, a definição de alianças com estratos da extrema direita brasileira consiste em um grave erro por parte do governo. A lógica operativa dos trabalhos resolveu compor com um congresso reacionário, potencializando, desta forma por meio dos feitores do congresso, reformulações de projetos que primam por alterações legais que atendem aos povo. Mas, o governo resolveu governar, a exemplo da experiência iniciada em 2003, em um tempo de grande disputa ideológica, construindo um caminho ao lado da direita liberal. A cobrança será árdua por parte do povo, sendo a responsabilidade da falida socialdemocracia e sua lógica de conciliação de classes a coroação do fortalecimento da extrema direita. O caminho era pela esquerda, mas asssim não quis o PT e Lula.
É necessário que os movimentos sociais e sindicais, a exemplo dos atos realizados pela FUP, disputem a linha central deste governo, caso contrário a classe trabalhadora poderá amargar graves retrocessos com a consolidação cada vez maior no país de referências aterrorizantes a vida das pessoas, como a PEC 32 quereformula a concepçãode Estado. Os discursos protofascistas iniciam com ataques aos comunistas e socialistas, propondo seu extermínio, no centro do poder implementam um programa de extermínio de qualquer opositor. Numa autocracia não há espaço ao diálogo, muito menos ao contraditório.
É necessário que as nossas organizações transformem as ruas em espaço de luta, chame o governo ao diálogo, apresentando que a chegada de bolsonaristas ao poder de mando em ministérios, estatais e governos municipais, em 2024, ampliará as expectativas de continuidade do desmonte iniciado em 2019. Se possível criemos as condições adequadas para aprofundar um programa de transição que supere as desigualdades de renda e riqueza que só cresce neste país. O silêncio de nossos movimentos imporá a continuidade do governo nesta bifurcação que constrói visibilidade a inimigos de nossa classe. A questão central é se o PT vai comprar essa briga?
Saída dos brasileiros de Gaza
Finalmente Israel autorizou a saída do grupo de brasileiros de Gaza. O sofrimento imposto a essas pessoas, por bombardeios que destroem casas, escolas, hospitais e templos religiosos continuará a ser uma realidade para milhões de pessoas que se encontram submetidas a política de extermínio proposta pelo estado sionista de Israel. Risível é vermos o bolsonarismo querer ganhar politicamente com a situação. Um grupo político que apoia a mortandade de mais de 4.500 crianças não possui legitimidade alguma para querer falar em preservação da vida de brasileiros. A realidade objetiva deste segmento político é a morte como prática, vivemos isso durante a pandemia, quando o mandatário maior deste país fazia gracinhas com a falta de oxigênio aos pacientes com a Covid19. Espero que as nações tomem uma posição drástica essa semana contra Israel, aprovando no Conselho de Segurança um bloqueio econômico contra Israel.
A horda chega a Roraima
Hoje, recebemos visitas danosas à convivência e respeito aos direitos do povo, principalmente das minorias. A comitiva do PP participará da festa milionária promovida pelo governo do estado. A comitiva que contempla o presidente da câmara dos deputados, o presidente nacional do PP, o líder do PP na Câmara dos Deputados e a senadora do agrotóxico regozijará com nossos recursos públicos. O partido é um dos aliados não aliados, do governo Lula, que indica extremistas de direita para exercerem cargos no governo. Ontem, no panfleto radiofõnico de direita, Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, afirmou ser oposição ao PT, declarando-se fiel seguidor de Bolsonaro. Como ter um aliado destes? Denarium tenta demonstrar apoio político em um momento de fragilidade, quando enfrenta o processo de cassação do mandato e levou o estado a uma situação fiscal de risco. Crise essa que não impede uma empresa de uma comadre gastar R$17 milhões. Com esse valor teríamos condições de construir 113 casas a um custo de R$150 mil cada uma. Governar é ter prioridade e a de Denarium, o governador dos ricos, e sua comitiva parece proteger os negócios dos amigos.
Marco temporal
A previsão é que nesta terça-feira o congresso nacional avalie o veto presidencial a criação do marco temporal na demarcação de terras indígenas. Ontem, em entrevista em uma rádio local, o presidente nacional do PP afirmou que o partido votará integralmente a favor do marco temporal e a favor de outras medidas que atingem diretamente as comunidades indígenas. Neste sentido é incompreensível a filiação do prefeito de Normandia ao PP, não é factível que um representante indígena integre um partido que apoia integralmente o marco temporal, uma legislação por essência anticivilizatória que retoma premissas utilizadas na colônia para justificar que os indígenas não possuem direito sobre a terra em que viviam.
Debate Argentina
Ontem, tivemos o último debate envolvendo as candidaturas burguesas de Massa e Miley. O debate demonstrou claramente a incapacidade do extremista de direita Miley para governar o país. No Brasil vivemos isso com Bolsonaro e o resultado foi desastroso para nosso povo. O auge do debate foi quando Miley tentou relacionar o seu anarcocapitalismo com a existência do Estado, algo de uma incongruência imensa ideologicamente. Espero que os argentinos tomem uma decisão acertada, caso contrário teremos muitos problemas a serem enfrentados aqui em Pindorama, a começar pela nossa indústria, tendo em vista que a Argentina é o principal destino de nossos produtos industrializados e Miley aposta em uma ruptura com o Brasil.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
fabioalmeida.rr@gmail.com
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