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24/02/2023

Foto do escritor: Fabio AlmeidaFabio Almeida

O carnaval é um momento de ampla confraternização do povo brasileiro, nestes dias de Momo, foliões vão às ruas, cristãos se encontram em cultos e orações, outros preferem o aconchego de suas casas, ao lado da família. No entanto, uma coisa é concreta. O período carnavalesco é um momento de encontros.


A graça esbanjada nas pinturas corporais e no júbilo das adorações somem de alguns rostos neste período de exaltação da alegria. Assim, ocorreu com centenas de famílias no litoral norte paulista, bem como, com meu amigo Nemias que perdeu sua Graça, para um tumor no cérebro no domingo de carnaval.


Entre a alegria de uns e a tristeza de outros enfrentamos sempre alguns dias de não trabalho, antes de começar efetivamente o ano administrativo, pois o laboral nos exige esforços desde o início de janeiro. Porém, nossos legisladores trabalharam quase nada neste período, pois diante da pressuposta altivez do cargo concedido pelo povo, acham-se no direito de ampliarem suas férias, já incomensuráveis a realidade de qualquer trabalhador.


O ano de 2023 inicia com tragédias que abalam nossas vidas. A fome e a contaminação por mercúrio entre os povos da TI Yanomami marcaram o mês de janeiro. Muitos perguntaram-se como é possível chegarmos a essa situação? Porém, a condição de sofrimento dos Yanomami representa a completa ausência do Estado que permitiu unidades básicas de saúde serem fechadas por garimpeiros e organizações criminosas, conquanto incentivou o deslocamento de pessoas ao garimpo e por último negou comida a um povo.


Essa ausência também notamos em São Sebastião (SP), um belo litoral, composto por pescadores que veem suas localidades serem usurpadas pela sanha imobiliária dos mais ricos, enobrecidos pelo direito de descansar deslocam pessoas com seu poder financeiro, as quais restam morar em locais de risco, porém com uma condição melhor de vida aos seus entes. Os quais muitas vezes perderão a vida pela ausência do Estado.


A tragédia em São Paulo foi anunciada 2 anos atrás, negros e pobres invisibilizados, por um Estado que atende os interesses dos mais ricos, sofreram com a ausência do Estado paulista. Por que as pessoas não foram alocadas em conjuntos construídos em área segura? Porque o mercado não permite. Porque somos um país forjado, desde o golpe de 1889, na garantia do bem-estar de poucos, a grande maioria de nosso povo que sofra as consequências da inação estatal.


Seis horas antes as estradas federais restringiram a circulação de carros em virtude dos ricos de deslizamento, ante a grande concentração de nuvens na região e a possibilidade de temporais na serra do mar. Por que as famílias e trabalhadores não foram retirados das áreas de risco, apontadas em 2021? Vai ver que o papel anunciador da tragédia deve dormir em alguma gaveta, sob o olhar da desfaçatez de um Estado que não cuida de seu povo. Chomsk já falava que o poder público ocidental valoriza os direitos negativos, não os direitos positivos.


As chuvas torrenciais do verão brasileiro a cada ano retiram vidas. Como sociedade exigimos que mudanças? Será que a remoção forçada de famílias destas localidades de risco é o caminho mais efetivo? Desocuparam um lugar de risco para se estabelecer em outro, pois o risco da vida de uma pessoa pobre se estabelece desde o local que a sociedade reserva a edificação de seu Lar, lógico, bem longe das casas de alto padrão, em muitas destas, aqueles prestam serviços.


Espero que possamos no ano de 2023 construir saídas concretas que ultrapassem as soluções imediatas. Precisamos entender que vamos passar a conviver – em virtude das mudanças climáticas e a possível nova Era do Antropoceno – com constantes interferências no processo geológico, fruto de fenômenos do ciclo de vida da terra, amplificados pela nossa sanha destrutiva da mãe terra, em nome do lucro de uns e do sangue e choro de milhões.


Portanto, fundamentalmente precisamos que o Estado brasileiro, sob a ótica da ação conjunta do Entes federados, consiga encaminhar políticas de cuidado e proteção da vida. Não é possível esperar outra tragédia para que possamos tentar voltar a debater soluções, precisamos que as soluções sejam encaminhadas pelo poder público, em consonância com a garantia da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras que moram nestes locais de risco.

 

QUEM PODERÁ RECLAMAR MEU CORPO?

O litoral norte de São Paulo é um lugar bonito e caro. Muitos trabalhadores e trabalhadoras no verão se deslocam para prestar serviços temporários neste espaço geográfico de muitas belezas ambientais e culturais, mais também, muita contradição de classe. Quantos destes desapareceram na tragédia de sábado para domingo passado? Quem poderá identificar o corpo de mais um (a) jovem negro (a) que se deslocou para tentar forjar seu sustento, negado em seu local de origem. Quantas são as faces invisíveis que sumiram completamente com toneladas de lama sobre seus corpos?

 

MAIS 2 SECRETARIAS EXTRAORDINÁRIAS

A farra administrativa do Governador de Roraima continua a sangrar os cofres públicos. Agora o Governador dos Ricos encaminhou mensagem a ALE/RR para criar duas novas pastas que abrigarão algum aliado político ou mesmo um parente desempregado. Serão criadas, caso permita o legi$lativo roraimense, as secretarias de atração de investimentos e desenvolvimento humano e social. As pastas possuem funções já implementadas por outras secretarias de governo, portanto, em sua essência significa apenas mais algumas dezenas de cargos comissionados para eu e você remunerarmos, com isso o Governador ganhará o compadrio de alguém.

 

STF DESTRONA OS REIS DO CRIME

Um lobby bem feito caiu por terra. A indústria do desmatamento e garimpo, entre outros crimes ambientais promoveu, em julho de 2022, um churrasco na praça Joaquim Nabuco para comemorar, junto com Denarium e alguns Deputados Estaduais e Federais, a sanção da Lei 1.071/2022 que desautorizava forças policiais e fiscalizadoras, do Estado, de destruírem máquinas e equipamentos apreendidos na prática de crimes ambientais. A proposta ainda vedava a participação do Estado em operações federais que resultassem na destruição ou inutilização de máquinas e equipamentos. No último dia 22, o STF, publicou o acórdão determinando a inconstitucionalidade da Lei pró Garimpo e Desmatamento, defendido por Denarium e 14 de seus cupinchas da Assembleia legislativa. Como uma iniciativa inconstitucional possui parecer favorável da PROGER do Executivo e da assessoria jurídica da ALE? A proposição foi feita por um Deputado defensor do garimpo e aliado do periquito esverdeado que tentou ser Deputado Federal. Vitória da sociedade roraimense.

 

UM GRITO DE LIBERDADE

A segunda-feira de carnaval em Boa Vista é marcada pela alegria dos foliões. A saída do bloco do Mujica – o ex-Presidente do Uruguai que afirma a necessidade de vivermos com alegria – enche as ruas de uma turba bradando a diversidade, o BEM VIVER, a defesa ambiental e a valorização dos povos. As músicas autorais movimentam corpos comprometidos com o respeito a vida e a solidariedade entre as pessoas. Neste torvelinho de emoções, os encontros fortalecem laços da luta cotidiana pela construção de novos referenciais sociais, pautados no amor, no respeito e na força da arte como expressão de um povo, ou melhor, parcelas de um povo que somam a cada ano mais um cadinho de jovens, adultos e idosos. Mujicar, no carnaval de BV, é afirmar que existem mentes dançantes, dedicadas a embalar sonhos de que outro mundo é possível, antes que o céu caia.


Bom dia. Um forte abraço.

 

Fábio Almeida

Jornalista e Historiador.

 
 
 

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