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Boa Vista sediou XXIV encontro do Entlaids

  • Foto do escritor: Fabio Almeida
    Fabio Almeida
  • há 5 horas
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 7 minutos

Foto Fábio Almeida
Foto Fábio Almeida

Entre os dias 27 e 30 de Novembro, Boa Vista foi a primeira cidade da região norte a realizar o Encontro Nacional de Travestis e Transexuais que atuam na luta e prevenção à Aids (ENTLAIDS). Surgido no ano de 1993, o encontro consolida-se como um espaço histórico de resistência social e política que engloba diversos movimentos e pessoas que pautam por meio de uma ação coletiva o direito não apenas de existir, mas de ser protagonista dos caminhos políticos, sociais, históricos e econômicos que marcam esse segmento da sociedade brasileira.


Ao final do encontro foi publicada uma carta, a qual aponta um processo efetivo de renovação das lideranças políticas do segmento. Uma das principais defesas do documento consiste na referência feita a trajetória das pessoas que trilharam o caminho da resistência histórica, sendo a cooperação entre as gerações, o respeito as experiências acumuladas e a preservação da memória coletiva o caminho apresentado como forma de continuidade e fortalecimento do movimento de travestis e transexuais no país.


O documento aponta que a resposta ao HIV/AIDS e as IST em geral deve superar a perspectiva biomédica. Apontam no texto que a desvinculação de determinantes importantes ao diálogo que se forja por meio da garantia dos direitos humanos, cidadania, enfrentamento às desigualdades e da saúde como produto social, contribui para uma percepção distorcida da realidade, onde o olhar passa a ser apenas a recuperação e prevenção da saúde. É fundamental pensar, conforme afirmam, o campo da promoção da saúde, partindo da premissa do protagonismo das travestis e transexuais não apenas no cuidado integral e na prevenção combinada, mas também na formulação da política, na comunicação comunitária, no acesso aos espaços de fazer da educação, cultura e direito ao trabalho.


Foto Fábio Almeida
Foto Fábio Almeida

O evento denuncia as iniquidades vivenciadas por travestis e transexuais em Roraima, mas também na totalidade das regiões norte, nordeste e centro-oeste apontando a dificuldade de acesso aos serviços de saúde pública. A ausência de serviços especializados, longas distâncias territoriais, precarização da rede de cuidados, xenofobia, estigma social e criminalização, processos vivenciados que excluem as pessoas, mesmo quando direitos existem previstos na Constituição e em leis. Uma frase impactante marca o apontamento político do documento, “Não há equidade possível sem compromisso territorial”. A vida de constrói no território, sem a observância dessas vidas o território produz apenas violências contra esse segmento social.


A carta assinada pela presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima (ATERR), Kelly Sales, termina pontuando os princípios orientadores do movimento: a) respeito incondicional à ancestralidade e Traviarcas; b) defesa permanente da democracia, da ciência, do SUS e da participação social; compromisso com a decisão coletiva; fortalecimento das políticas de prevenção e cuidado nas regiões mais vulneralizadas; valorização das narrativas trans e travesits; fortalecimento da luta por direitos humanos, cidadania, justiça social e valorização das identidades.


Cris Stefanny
Cris Stefanny

Para Cris Stefanny, uma das fundadoras da ANTRA, o ENTLAIDS ultrapassa a perspectiva da luta contra as doenças sexualmente transmissíveis, temas como direitos humanos, empregabilidade, cidadania são debatidos nos encontros. “Foi por meio do ENTLAIDS que conseguimos com que o SUS reconhecesse o nome social, ou mesmo da conquista do dia nacional de visibilidade Trans surgem desse evento, afirmo que quase a integralidade das políticas públicas existentes surgem desse espaço de diálogo. Se hoje temos parlamentares ou mesmo travestis e transexuais ocupando espaços de gestão é fruto da grandeza desse evento”, afirmou.


Trazer o Entlaids para a região Norte, para Stefanny, é permitir a descentralização dos debates e temas relacionados as políticas públicas para locais mais difíceis de travestis e transexuais sobreviverem, aponta que essa realidade existe devido à ausência das ações dos governos. “Percebi que houve um engajamento pequeno do poder público em prestigiar o encontro, mas acho importante que esse evento nacional seja realizado aqui, assim trazemos uma notoriedade aos fatos que acontecem na região. Acredito que o poder público precisa responder a todo o conjunto da sociedade, pagamos impostos como todas as demais camadas da sociedade”, disse.


Conheça a integra da carta do ENTLAIDS



“A população Travesti e Transsexual precisa ser vista pelo poder público inclusive a partir das desigualdades econômicas a que somos expostas. Vivemos muitas vezes pelo estigma e violências da sociedade sendo estupradas, violentadas, expulsa de casa, sem acesso à educação, moradia e empregabilidade. Por isso, o debate de cotas é fundamental para combater a vulnerabilidade a que muitas de nós é exposta. Muitas das pessoas que tentam nos negar o direito a existência e negam o debate das cotas são os mesmos que muitas vezes tem as Travestis como objeto de seus desejos sexuais. Ou seja, vivemos em numa sociedade que quer nos negar o direito de existir, mas que nos usa para satisfazer seus desejos mais loucos. Esse evento serve para enfrentarmos juntas esse estado de coisas”, disse Cris Stefanny.

 
 
 

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