A vida é maravilhosa. Mas, um dia seu sopro deixa de expirar as alegrias, certezas, dúvidas e tristezas. Enfim, a essencialidade da felicidade de compartilhar com os outros os diversos momentos, extingue-se. Não deixamos de existir, passamos a ser “glorificados” nos pensamentos dos outros, nos fazendo continuar vivos, transposto da matéria para as ondas elétricas de nosso subconsciente.
Determinadas horas da luta pela manutenção da vida, parece ser melhor a deixarmos esvair-se, pois o sofrimento é uma forma de tortura que nos imputa muita tristeza. E, não nascemos para sermos pessoas tristes. Existimos para liberar odores de alegrias. Portanto, seu fim, as vezes, é o melhor caminho, libertando-nos da agonia hospitalar, dos bip’s ensurdecedores - quando o podemos escutar - e de uma rotina que restringe nosso olhar para um teto, que surge como uma tela a refletir todos os momentos de nossa existência.
Ontem, pela madrugada, Agnaldo Almeida, meu tio, encerrou sua estada entre nós. O filho do meio foi logo após o filho mais velho, Arlindo Almeida, meu pai. Restou da família de Agripino e Laurita - a mulher da voz mais bonita que já tive oportunidade de escutar cantando - meu querido Agmar Almeida. A maior alegria do sapateiro e da costureira foi formar os 3 filhos, homens bonitos, altivos e lutadores, numa sociedade de desiguais, que penaliza negros, como são todos eles, pois não puxaram a desccendência lusitana de meu avô, mas a negritude encantadora de Laurita.
Tio naldo, como o chamava, pude visitar no início de 2023, pois morava em João Pessoa, minha terra natal. Lúcido conversamos muito sobre política e a grave degradação que vivenciamos no país, especialmente depois do messianismo autocrata da extrema direita. Jornalista, possuiu um papel importante na consolidação do telejornalismo em Jampa. Sua atuação na TV Tambaú foi fundamental para consolidar um formato e demonstrar a capacidade de na década de 1980, se fazer jornalismo televisivo, em uma cidade da periferia do desenvolvimento tecnológico, como hoje ainda somos em muitas de nossas cidades, apesar da democratização das ferramentas, em virtude da internet.
O Norte, A União e o Correio foram veículos impressos de atuação política desta jornalista que tinha um ótimo texto, conciso, sagaz e contundente ao enfrentar os entraves humanos que dificultam nossa existência. Isso, uma essência da prática jornalística, a qual sempre contribuiu de forma altiva, fosse na redação ou nas editorias, o careca negro sempre esteve a palpitar o melhor formato, a melhor expressão, o lead que demonstra-se de forma concisa a notícia, em um mundo, cada vez mais, sem tempo para leitura - o que é uma pena.
O whiky não podia faltar, integrava em tempos idos parte da rotina de vida. Mas, era a cana de cabeça, embaixo do pé de manga, na casa de Laurita, no Castelo Branco - nome horrível para um conjunto criado para abrigar jornalistas - que empolgava nas conversas, todos os sábados pela manhã. Essa uma rotina já superada anos e anos atrás, desde que Agripino, meu avô, deixou essa existência e Laurita não teve mais condições de morar sozinha. A vida é assim mesmo, de tempos em tempos nos impõe mudanças, seja nas práticas, ou mesmo nos hábitos.
O domingo sempre foi um dia especial, tio Naldo, se dirigia ao bar, rotina já não compartilhada nos últimos anos, mas durante boa parte da vida à praia de Tambaú foi o destino das manhãs de domingo. Uma mesa de jornalistas, com histórias e histórias, boa parte delas sobre política, muitos ali construíram suas laudas falando da política paraibana e brasileira. Uma boa ideia foi a partida em um dia de alegria. O brinde, neste último domingo, foi uma despedida final que não calará as palavras, apenas nos privará da convivência.
Ato na Paulista
Recentemente acompanhei a entrevista do historiador João Cezar de Castro Rocha, no canal ICL, onde realizou uma análise muito esclarecedora sobre a relação do neopentecostalismo e a política. Seu fio condutor consiste numa doutrinação criada nos EUA, denominada teologia do domínio ou dominionismo, fundamentalmente consiste em submeter a vida pública ao domínio religioso cristão.
O ato de ontem foi claramente uma promoção de insígnias que fundamentam as sustentações teóricas deste movimento encampado pela direita cristã. O velho testamento guerreiro, do Deus senhor de exércitos foi enaltecido para justificar Bolsonaro como o escolhido, o ungido por Deus para guiar seus fiéis contra o mal, contra Satanás, representado por todos que não consignam os dogmas que regem essa visão ilusória de mundo, calcada numa política de ódio.
O movimento mobilizou pessoas, tendo como principal ferramenta de aglutinação as igrejas neopentecostais. A esposa de Bolsonaro deixou claro, logo na abertura do ato, a intenção da consolidação no Brasil de um modelo teocrata de organização política, ao externar que durante muitos anos as igrejas rejeitaram a política, o resultado foi o "diabo" se apropriar dela. Mas, agora o ungido existe para guiar o povo.
Eesse discurso é muito perigoso, pois formata uma visão de mundo baseada numa verdade absoluta, construída pelo imaginário cristão e seus dogmas. Onde, o inimigo deve ser eliminado, pois sua existência consiste na perpetuação do mal. Nada diferente do integralismo cristão que fundamentou todo o período da idade média europeia, quando poder divino excluiu, matou e roubou o povo. Até hoje, o cristianismo não pediu desculpas.
A consolidação desse Deus raivoso, proclamador da necessidade do domínio cristão sobre todos os seres que andam pela terra, impõe uma mudança significativa na narrativa religiosa da maioria das igrejas neopentecostais. Jesus Cristo perde espaço para Deus, assim o novo testamento, do filho conciliador, some dos cultos, para acender um raivoso Deus, do velho testamento, orientado pela guerra, conflito e a violência contra o inimigo. Este por várias vezes foi proclamado na avenida paulista, ontem.
No entanto, a participação popular foi bem menor que o esperado pela organização, demonstrando que as denúncias contra o ex-presidente têm impactado sua liderança política. Por mais que Silas Malafaia tenha em seu discurso, na Paulista, tentado reconstruir a história dos fatos, a população sabe que o desvio das joias e a tentativa de golpe de estado possuem provas substanciais que comprometem a relação divina de Bolsonaro com sua própria existência. Já o ex-presidente realizou um medíocre discurso, demonstrando medo e pedindo conciliação e anistia.
Queimadas
Desde o mês de junho de 2023 temos a certeza da grave crise ambiental e hídrica que viveríamos em Roraima, em virtude da ação dos efeitos do El Nino. O que fez o governo de Roraima? Nada. Parece esperar o agravamento da crise para poder decretar estado de emergência e realizar contratações e compras sem a necessidade de respeitar os procedimentos licitatórios. Reina a dispensa, um modelo de contratação muito usado pela cupincha de Denarium que administra a Sesau. Revoltante saber que enquanto o Estado queima, o governo possui 240 brigadistas treinados que devem ser contratados apenas essa semana. A justificativa para não contratar as pessoas foi a Lei de responsabilidade fiscal que Denarium não respeita desde o primeiro quadrimestre de 2023. Ocorre que o inciso III, do artigo 19, da LRF, exclui essas situações do cômputo dos limites estabelecidos. Ou seja, para tentar esconder sua incompetência, o governador cassado, tenta utilizar limites legais que não existem. Esse é o governo da enganação.
Denarium
Bolsonarista de carreira e álcool, o governador cassado se aproxima cada vez mais do governo Lula. A necessidade de parcerias é fundamental para resolução positiva da agenda de cada um dos governos, isso, obrigatoriamente, não significa estabelecer alianças. No entanto, Denarium sabendo do caminho sem volta da cassação procura junto ao governo Lula e ao STF a sustentabilidade de sua candidatura ao Senado. A cassação vem juntamente com a suspensão do direitos políticos, o atual governador com a aliança política com o PT - após anunciar o extermínio da agremiação em Roraima - e os sorrisos na posse do Dino no STF, demonstra que tentará suspender a penalidade para disputar as vagas de Mecias e Chico, para isso precisará de apoio político para reverter, no STF, a suspensão de seus direitos políticos. Por isso, os risos e abraços na posse do “ministro comunista” como afirmam os aliados de Denarium, ou podemos dizer ex-aliados do governador cassado.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
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