O crescimento político-eleitoral dos representantes neopentecostais exige uma reflexão da sociedade brasileira. A formulação de um Estado teocrático, onde dogmas de determinada ideologia passará a reger o país, consolidando uma sociedade de ódio e conflitos? A premissa da convivência harmônica e pacífica deixará de ser uma realidade vivenciada por nós, no mínimo no tocante às relações sociais, quando não envolvem, lógico relações econômicas, aqui a força do estado burguês não perdoa.
Em outros momentos abordei esse tema, apontando que na história brasileira já tivemos uma estrutura teocrática determinando os caminhos nos solos de Pindorama. Pessoas assassinadas, presas e humilhadas publicamente foram uma realidade objetiva, especialmente contra indígenas, ciganos e pretos. A lógica teocrática, apesar de perpassar a segregação de raça, estrutura-se principalmente pelo enaltecimento da opressão de classe social, fundamento central da lógica organizativa do liberalismo cristão.
A teologia do domínio consiste na estruturação teórica dessa linha de pensamento, estabelecendo uma proposta política que se consolida pela adoção de dogmas cristãos na organização do Estado. Aqui, temos questões centrais, a exemplo de Putin na Rússia ou Obrador no México que consolidam uma política de perseguição à comunidade LGBTQIA+, em nome de uma moralidade cristã. Ou mesmo a política de universalização do cristianismo e vinculação direta de qualquer outra forma de religião ao Satanás, como ocorre com o Xamanismo e outras expressões teológicas dos povos originários e africanos.
No Brasil, o processo de consolidação dessa teoria religiosa alinha-se com as oligarquias financeira e agrária, estruturas fundamentais ao processo de apoio político de uma vasta representaçãopolítica que rastejava pela Paulista, no último domingo. Basta vermos o nível de adesismo por exemplo das festas agropecuárias ao que de mais estranho temos no reacionarismo brasileiro, a exemplo da mulher ser colocada como um objeto de consumo. Nesse caminho o sexo feminino assume um papel subalterno aos interesses masculinos, estes seres divinos, diretamente relacionados com Deus, a mulher, em si, e para si, uma pecadora.
A questão central é se queremos consolidar esse modelo de Estado? Queremos esse Deus que projeta o ódio pela boca de seus líderes religiosos entre nossas vidas e relações? A busca de resposta a essas duas questões são fundamentais, a pluralidade religiosa, ao respeito às diversas formas de manifestação do sagrado foi uma conquista que alcançamos em 1947, ao aprovar a laicidade do Estado e a liberdade de organização e culto religioso. O estado laico é o único caminho para avançarmos como sociedade, possibilitando a inclusão humana de nosso povo e combatendo o ódio como uma lógica política. A extrema direita e parcela dos líderes neopentecostais defenderam esse estado de violência, contra o próximo na avenida Paulista ao conclamar uma guerra santa contra os ímpios, ou seja aqueles que se levantam contra o projeto autocrata de Bolsonaro.
É fundamental entender uma insígnia apresentada pelos neopentecostais. Não são eles conservadores, mas sim reacionários. Não querem conservar processos existentes, mas sim, retroagir em direitos. A exemplo do que fizeram os reacionários liberais que com apoio da bancada evangélica aprovaram a reforma trabalhista e previdenciária que retiraram conquistas de nosso povo, para aumentar o lucro dos burgueses.
A aliança entre o reacionarismo cristão, a oligarquia agrária e parcelas dos militares foram bases do crescimento da extrema direita, inclusive na organização do ato político realizado no último dia 25/02/2024. Combater essa aliança é um passo importante, neste sentido precisamos fortalecer a campanha #SemAnistiaaosGolpistas. Responsabilizar os organizadores da tentativa de golpe de Estado, tanto civis e militares é o único caminho sólido para possibilitar uma retomada do ciclo democrático que vivenciamos desde o ano de 1990.
Neste sentido, precisamos organizar um ato de rua importante, não com o objetivo central de superar o culto realizado na Paulista em números de pessoas, mas para possibilitar os olhares que guiam a esquerda, mesmo com suas divergências, por meio da apresentação de uma pauta unificada. Se a unidade é apenas lutar contra a anistia dos golpistas, façamos um ato com esse objetivo. O que não podemos é perder às ruas para a extrema direita brasileira.
Desoneração
O governo parece ter recuado ao manter a desoneração de 17 setores da economia, aumentando o rombo financeiro na conta de arrecadação. Com a remissão do valor dos tributos previdenciários, a conta recai sobre cada um de nós que financiamos esse tipo de perda. São cerca de R$18 bilhões ao ano, mais do que os recursos destinados ao Minha Casa, Minha Vida, da faixa 1. Ontem, também vimos o governo aprovando que sua bancada votasse a favor da isenção de impostos para templos religiosos. O impacto deverá girar em torno de R$1 bilhão, recurso que sairão “em nome de Jesus” para fortalecer os serviços e aquisição de materiais, neste governo essas relações são consolidadas no mundo da corrupção.
Hospital Indígena
A proposta de consolidação de um hospital indígena consiste em um erro enorme do governo federal. O SUS preconiza o fortalecimento da atenção primária, precisamos de uma estrutura forte, sólida, humanizada, promotora do cuidado nas comunidades. Ao projetar a construção de um hospital indígena, cujos custos serão altíssimos, drenaremos os recursos que hoje financiam o atendimento primário, nas comunidades indígenas, para essa nova estrutura. Ampliar e melhorar as estruturas de saúde nas comunidades, aumentar o número de equipes e fortalecer a inserção de profissionais indígenas são caminhos sólidos. Arouca, afirmou com muita sabedoria que não precisávamos de novos hospitais para atender os indígenas, pois essas estruturas já existem na rede do SUS, precisamos, no entanto, adequar-se às necessidades da diversidade cultural dos povos indígenas. Esse é o caminho concreto para fortalecer a atenção à saúde indígena, adotar como referência o translado de indígenas para Boa Vista é um dos maiores erros a serem cometidos, promovemos a morte dos Yanomamis na. Cidade.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
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